sábado, 27 de fevereiro de 2016

REFLETINDO A PALAVRA - “Justiça que é amor”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
569. O amor faz justiça.
            Nós temos uma imensa capacidade de amar. Amamos com os sentimentos, com o corpo, com as atitudes e com tudo que somos. Esse amor é tão grande que, mesmo sendo uma gota diante da imensidão do mar, torna-se com ele oceano. É tão grande que se funde com Deus. “Deus é amor: Quem ama, permanece em Deus e Deus nele” (1Jo 4,16). O amor de Deus não se reduz a um sentimento afetuoso de Pai. Ele é também justiça. É um amor que cria justiça. Essa é uma das quatro virtudes cardeais (prudência, justiça, fortaleza e temperança) que levam ao concreto as virtudes teologais (fé esperança e caridade). São cardeais, quer dizer gonzos, dobradiças que sustentam as portas que se abrem para a Vida. É uma virtude humana que se embebe da virtude espiritual. Não se trata somente de premiar o certo e dizer onde está o errado, mas de “dar a Deus o que é de Deus e dar ao próximo o que lhe é devido”. É uma virtude de promoção humana e espiritual. O amor se realiza na justiça. Ser justo é amar. Dizemos que amamos quando praticamos para com a pessoa amada, aquilo que lhe é devido, mesmo que seja dizer a verdade sobre seus atos e desviá-la dos maus caminhos. Não ama quem deixa que o outro se perca. Amar é dar vida. Justiça é preservar essa vida, mesmo à custa da própria vida. Dar a própria vida pela Vida não é só morrer por ela, mas dedicar-se, dia-a-dia, para que ela seja sempre mais conforme a verdade. Deus é justo quando acolhe cada um, perdoa o erro e cura os corações feridos. Jesus diz: “Não vim para julgar o mundo, mas para salvá-lo” (Jo, 12,47). Quando dizemos que Deus castiga, na realidade queremos nos vingar com as mãos de Deus.
570. Olhos de justiça
            A gente ouve muito, no caso de crimes: “Eu só quero justiça”, isto é, que o outro pague. Certo! Mas, o melhor é mudar de atitudes. Precisamos de uma justiça que possa redimir vítimas e criminosos. Houve um caso na África do Sul: “Os pais de jovem estudante norte-americano Amy Biehl, morto em Gugulethu (Cidade do Cabo) não apenas perdoaram os jovens assassinos, mas criaram a Fundação Amy Biehl para ajudar os moradores do distrito a conseguir uma segunda chance na vida.  Disse a mãe de Amy Biehl: ‘Não tenho ódio no coração; mas o que me preocupa é como esses jovens poderão ser reintegrados na sua comunidade e reconstruir suas vidas’”. Ter olhos de justiça é ver os necessitados de vida.  O Reino de Deus inclui a solidariedade da justiça e do amor. Onde há injustiça, não há o Reino. Justiça é o respeito ao direito de Deus, das pessoas e da natureza.
571. Justiça inteligente
            A justiça não é cega, é inteligente, unida à sabedoria de Deus e promove as pessoas. Ela vem unida à caridade. Diz-se: “Faça o bem e não olhe a quem”. Às vezes estamos fugindo de assumir uma atitude concreta para o bem da pessoa. Descarrego a consciência e faço o outro pior do que antes. A justiça, filha da caridade, é fazer como fez o samaritano: foi até o final da situação o infeliz que caiu nas mãos do ladrão (Lc 10,29-37). Justiça é gerar fraternidade, abrir caminhos, promover o acolhimento. Tudo isso deve começar dentro de casa. Quanto sofrimento dentro das famílias, nos grupos sociais, nos relacionamentos trabalhistas e políticos! Jesus propõe o caminho das bem-aventuranças. Ser Igreja para fazer como fazem os “outros” é destruir o Reino de Jesus. Quem diz amar é diferente.

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