O
amor é um dom de Deus, pois constitui seu Ser. Somos participantes de este Ser:
“Deus é amor e, quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus nele” (1Jo,4,16). Esse amor é dom. Somos primeiramente
amados, e depois, correspondemos ao amor. Amor não é um sentimento, é vida.
Deus nos ama como Vida para que vivamos sua Vida. À medida que acolhemos Deus
como amor, nós o conquistamos sempre mais. Como criancinhas que, amadas,
conquistam o amor pelo amor que manifestam, nós, através do amor conquistamos o
Amor. Paulo escreve: Deus nos conquista para nos dar o dom de conquistá-lo.
Será sempre uma batalha de amor, como no conhecimento de Deus: Quanto mais luz
de Deus, mais trevas, para assim procurá-lo mais. Há sempre, em nós, o desejo
insistente de Deus. Este desejo nos move como uma sede que nos consome: “Como a
corça suspira pelas águas correntes, assim suspira minha alma por vós, ó meu
Deus” (Sl 42,1). O salmista não fala de um
belo animal buscando a água fresca no bosque, mas é o animal enlouquecido de
sede que se arrisca em busca da água. É como a terra esgotada pela seca que se
racha como que clamando pela água: “Como a terra seca anseio por vós” (Sl 143,6). A conquista do amor não é um domínio
sobre Deus. É uma mútua entrega. Pela História da Salvação percebemos o quanto
Deus se doa à humanidade, a seu povo, para atrair com laços de amor, como lemos
em Oséias: “Eu os atraia com laços de bondade, com vínculos de amor; eu era
para eles como quem ergue uma criança até o rosto e me inclinava até eles para
dar-lhes de comer” (Os 11,4). A vinda de Cristo é expressão desse amor que
se transforma em
misericórdia. Deus passa com o coração para nosso lado, para sentir
o que sentimos e assim nos conduzir a si pela Redenção. Isso é profundamente
humano. E por isso, divino, pois só Deus poderia agir com tanta intensidade: “Entregou
o Filho para salvar o escravo, canta a liturgia” (Precônio
Pascal). Para alimentar esse amor, todos nós temos o Espírito Santo, que
é o amor entre o Pai e o Filho.
564. Como
por um espelho
Esse
amor é também um aprendizado. Aprendemos de Cristo. Jesus é o modelo a ser
realizado do amor. O texto referente à Última Ceia revela-nos o sentido da vida
e da morte sob o sinal do amor que Ele tem aos seus: “Tendo amado os seus que
estavam no mundo, amou-os até o extremo do amor”. É a primeira vez que o amor explica
sua vida e morte. Este texto é como que o preâmbulo da instituição da
Eucaristia, memorial do amor de Cristo, em sua entrega na cruz. Cristo é o
espelho para aprendermos a amar. Ele passou sobre todas as barreiras culturais
e religiosas para mostrar seu amor aos humilhados. O amor de Jesus pelo Pai se
derrama em amor pelas ovelhas perdidas, fazendo o bem e curando todos os males (At 10,38). Os evangelhos estão cheios de seus
gestos de amor.
565. Fé
operosa na caridade.
O amor se constrói no amor. Amando
se aprende amar. Mas a resposta de amor a Deus está direcionada também aos
irmãos: “Nisto conhecemos o amor: que Ele deu a sua vida por nós. E nós também
devemos dar as nossas vidas pelos irmãos” (1Jo
3,16). A fé sem obras é morta (Tg 2,17).
Amor sem obras é morto igualmente. A Carta aos Cor 13,1-13, é o grande hino ao
amor que será a única realidade que levaremos à vida eterna. Somos ensinados a
gerar os frutos do amor. Os dons de Deus frutificam em nós para que os
coloquemos a serviço dos irmãos. A fé deve agir pela caridade (Gl 5,6). Mesmo não sendo cristão, o amor não
deve faltar em nossa vida, pois por ele somos humanos por inteiro.
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