Escutai o que Ele diz.
“Sei que a bondade do
Senhor eu hei de ver na terra dos viventes” (Sl 26,13). No coração do homem há um
profundo desejo de ver Deus. Essa visão de Deus se dá através de Jesus. Pedro
guardou profunda memória da visão que teve de Cristo transfigurado. Mais que a
visão, guardou a voz: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (2Pd 1,17-18). Lucas
narra a transfiguração e diz: “Escutai o que Ele diz” (Lc 9,35). Ouvindo Jesus participamos
de sua transfiguração. Ver Deus é vê-Lo agindo em nós e nos transfigurando. Nos
evangelhos a transfiguração de Jesus no Monte Tabor é a resposta à situação de
fragilidade de Jesus tentado, recusado, morto e sepultado. Tudo isso aconteceu
não sem acontecer a Ressurreição. Ela dá sentido a tudo o que Jesus passou. Ver
Deus é ver também seu Cristo padecente e participar de seus sofrimentos; “Se
com Ele morremos, com Ele viveremos. Se com Ele sofremos, com Ele reinaremos” (2Tm 2,11-12). A
visão de Deus passa pelo mesmo caminho de Jesus: sofrimento, morte e
ressurreição. É a Palavra de Deus que nos garante. Moisés e Elias, grandes líderes
e profetas do povo, profetizaram em vista de Jesus. Ouvindo a Palavra entramos
na “nuvem” que é a presença de Deus e entendemos o novo caminho aberto por
Jesus. Agora há um novo caminho, não mais por Moisés e por Elias, mas por
Jesus. É a Ele que devemos ouvir. Abraão fez uma aliança com Deus passando através
dos animais partidos ao meio (Gn 15,5-18). Jesus partido pela lança no sofrimento de sua
paixão realiza a nova aliança. Deus nos dá uma terra: “Somos cidadãos do céu...
Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo
glorioso com o poder que tem de sujeitar a si todas as coisas” (Fl 3,20-21).
É bom estarmos aqui
A Quaresma é o tempo da Igreja para nos
prepararmos para a Páscoa. Ela é a passagem de Deus entre nós libertando-nos
através de seu Filho e introduzindo-nos na terra prometida da vida da graça. No
Monte Tabor, diante da maravilhosa visão de transfiguração e presença de Moisés
e Elias, Pedro diz: “É bom estarmos aqui”. Sentia-se bem em tão precioso
momento. Entram na nuvem que é a presença de Deus. O medo que sentem é o santo
temor respeitoso e atrativo da presença de Deus. A Quaresma é o tempo de
entrarmos na nuvem, isto é, vivermos com maior intensidade a força da graça
redentora de Cristo. Por isso a Palavra
de Deus é abundante. As cerimônias querem proporcionar o momento de encontro
com Deus para ouvir. É o tempo de transfiguração, mesmo sofrendo as
consequências do mal que nos cerca e também está dentro de nós. Vivendo a
conversão na comunidade saboreamos a presença de Deus, ouvindo seu Filho.
Participar das coisas do Céu
Rezamos
na oração Pós-Comunhão dizendo ao Pai: “Comungamos no mistério da Glória e nos
empenhamos em render graças, porque nos concedeis, ainda na terra, participar
das coisas do Céu”. Esta dimensão da união entre o Céu e a terra na celebração
nos ensina que não há separação entre a vida futura e a vida que vivemos na fé
e nos sacramentos. Por isso o Mistério da Transfiguração nos mostra Jesus
glorificado e Homem das dores. No prefácio rezamos: “Pelo testemunho da Lei e
dos Profetas, nos ensina que, pela Paixão e Cruz, chegará à glória da
Ressurreição”. Contemplando Jesus tentado pelo demônio e glorificado pelo Pai,
podemos viver bem nossa preparação para a Páscoa da Ressurreição.
Leituras: Genesis 15,5-12,17-18;Salmo 26;
Filipenses 3,17-4,1; Lucas 9,28b-36
1.
Temos o desejo de ver Deus. Nós O vemos através de
Jesus, ouvindo sua palavra e participando de seus sofrimentos. O caminho foi
aberto por Jesus em seu corpo transpassado como Abraão que passa entre as
vítimas. Recebemos uma terra, o Céu.
2.
A preparação para a Páscoa é acolher a passagem de Deus
entre nós libertando-nos através de seu Filho. É bom estarmos aqui, diz Pedro.
A nuvem é símbolo da presença de Deus. Quaresma é tempo de entrar na nuvem
participando da graça redentora pela conversão e participação.
3.
Pelo sacramento da Eucaristia participamos na terra das
coisas do Céu. Vivendo na fé, não temos essa separação. Contemplando Jesus
tentado e glorificado podemos viver a preparação para a Páscoa.
Medida
da roupa
Quando
vestimos uma roupa nova e ficamos chics, parece que nos transformamos. No
domingo passado vimos o estrago que o pecado faz em nós quando cedemos à
tentação. Podemos contemplar o resultado
que acontece em nós quando ouvimos Jesus e o acolhemos. Jesus sobe à montanha e
Se transfigura diante dos discípulos mostrando sua realidade gloriosa após a
Ressurreição. Moisés e Elias são etapas que o povo viveu até chegar Jesus.
Jesus se transfigura. Nós
também nos transfiguramos quando ouvimos sua Palavra e a acolhemos. Por isso
Deus diz: “Este é meu Filho, o Escolhido, escutai o que Ele diz”. “Somos
cidadãos do Céu e aguardamos a transformação de nosso corpo que o tornará
semelhante ao seu corpo glorificado” (Fl 3,210). Purificado o olhar de nossa fé, nos alegremos com a
visão de vossa glória (oração).
Deus prometeu uma
descendência a Abraão. Fez aliança com Abraão mostrando sua comunicação que dá
vida. Com a disposição de aliança começou nossa transfiguração.
Ouvindo o Filho e vivendo sua
Palavra, participamos na terra das coisas do Céu (pós comunhão). Estamos com a mesma roupa de
fora, mas por dentro revestido da glória de Deus.
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