domingo, 28 de fevereiro de 2016

Homilia 3º Domingo da Quaresma (28.02.16) “Permanente conversão”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
Figueira estéril
            No tempo da Quaresma entramos no coração da História da Salvação e contemplamos os fatos maravilhosos e tristes que aí se encontram. Diante da fragilidade humana está a misericórdia de Deus. São Paulo explica que “nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem e passaram o mar”. Deus fez maravilhas para eles. Qual a resposta? “A maior parte deles desagradou a Deus. Morreram e ficaram no deserto” (Ex 10,1.5). O que faltou em Deus para fazer bem ao povo? Qual a resposta? Esterilidade! A parábola sobre a figueira estéril sintetiza bem a história do povo: Um homem tinha uma figueira e foi buscar figos e não encontrou. Mandou que fosse cortada, pois ocupava espaço. O vinhateiro lhe disse: “Senhor, deixa a figueira ainda este ano. Vou cavar em volta dela e colocar adubo. Pode ser que venha dar fruto. Se não der, então tu a cortarás” (Lc 11,8-9). Deus busca frutos em nós. O fato de sermos povo de Deus não nos garante. O que garante é a constante conversão. O povo viveu momentos grandiosos da bondade de Deus e não soube corresponder. Paulo diz que esses fatos aconteceram para ser um exemplo para não fazermos o que fizeram. E diz também “Quem julga estar de pé tome cuidado para não cair” (1Cor 10,12). É um alerta forte para que não nos sentamos seguros na vida de fé e na prática da vida cristã. É necessária uma permanente conversão. Esse negócio de dizer que Jesus já me salvou ou sou ungido, já sou padre etc... Jesus responde: “Mas se não vos converterdes, vós ireis morrer do mesmo modo” (Lc 13,5).
Misericórdia que salva
            “Eterna é sua misericórdia”. A todos é dado o tempo da paciência de Deus que é eterna. Se nos ocorrem coisas difíceis, podemos ver que não vêm de Deus, mas de nossa fragilidade ou cabeça dura, como ocorreu com o povo no deserto. Moisés dizia: “Esse povo tem cabeça dura” (Ex 32,9). Mesmo assim Deus sempre vem ao nosso encontro com novas propostas de vida. Rezamos no salmo: “A maior proposta é Jesus que é a expressão do amor de Deus. Jesus demonstra sua condição de Deus perdoando, amando, cuidado de todos, sobretudo dos pecadores. Temos diversas parábolas e gestos que narram essa misericórdia como “a ovelha perdida”, “o pai misericordioso” (o filho pródigo), Zaqueu, o jantar na casa de Mateus, os perdoados, os doentes curados, endemoniados libertados. Como preparação para a Páscoa, lemos que a festa não é somente um acontecimento, mas é a realização plena da misericórdia de Deus que dá Vida. Jesus sofredor assumiu nossas dores e “se fez pecado por nós” (2Cor 5,21). A Ressurreição de Jesus é a expressão da misericórdia de Deus que em Jesus perdoa a todos, com amor total.
Manifestar o que o sacramento realizou
            A oração pós-comunhão ensina como a conversão conduz à vivência cristã: “Já saciados na terra com o pão do céu, nós vos pedimos a graça de manifestar em nossa vida o que o sacramento realizou em nós” (Pós-Comunhão). A atitude de fé conduz à prática. O sacramento não é somente um ato religioso, mas um dinamismo que leva a agir produzindo frutos. A figueira só tem sentido ocupar espaço no jardim se produz frutos. Frutos são sinal de vida. O tempo quaresmal é um sacramento, como nos diz a oração do primeiro domingo. Sacramento é um símbolo que realiza o que explica. O sacramento da Quaresma anuncia a Palavra que nos instrui para a compreensão do Mistério Pascal e nos purifica pelas ações coerentes com o que foi anunciado.
Leituras: Êxodo 3,1-8ª.13-15;Salmo 102; 1ª Coríntios 10,1-6.10-12;Lucas 13,1-09. 
1.     A parábola da figueira, como explica Paulo, que não podemos repetir a história do povo. Recebeu muito de Deus e não correspondeu. É necessária a conversão. 
2.     Deus sempre tem propostas novas para nossa vida. Sua misericórdia e paciência são eternas. A ressurreição de Jesus é expressão máxima da misericórdia do Pai. 
3.     A fé conduz a uma atitude prática. O Sacramento recebido realiza o que significa. 
O limite da paciência   é a paciência. 
Jesus usa uma imagem interessante para explicar que Deus quer frutos de tudo o que investiu em nós em toda a história da salvação. Contou a parábola da figueira que um homem plantou e cuidou bem. Quanto foi buscar os frutos por três anos seguidos não encontrou. Então disse a empregado: Corta-a porque está inutilizando a terra. O empregado diz: “Vamos esperar um pouco mais. Vou chegar uma terrinha, colocar adubo. E, se não der, a gente corta”. Deus é paciente e misericordioso. Os sofrimentos do povo, vistos como castigos, os levavam à conversão.  A paciência de Deus é sem limites. 
Assim foi sua história, assim é nossa história: Deus oferece tanta coisa ao povo, como a nós também foram oferecidas tantas graças e tantos dons. Como fizeram podemos fazer também: revoltar contra Deus. 
O chamado é a sermos misericordiosos como Deus O foi, sempre dando chances. É preciso ser misericordioso com a gente mesmo, sabendo que temos direito a novas chances, pois somos sempre frágeis. 
Deus enviou Moisés para libertar o povo. Mostrou sua preocupação e desceu para salvar o povo do sofrimento. Paulo explica que, mesmo conhecendo o que Deus fizera, o povo ainda se revoltou contra Êle. Nós podemos fazer o mesmo. Por isso Paulo diz: “Quem está de pé, veja de não cair” (1Cor 10,12). Por isso Jesus insiste na conversão permanente. Vivamos lembrando os benefícios de Deus: “Bendize, minha alma, ao Senhor, não te esqueças de nenhum de seus benefícios” (Sl 102).

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