PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
Figueira
estéril
No
tempo da Quaresma entramos no coração da História da Salvação e contemplamos os
fatos maravilhosos e tristes que aí se encontram. Diante da fragilidade humana
está a misericórdia de Deus. São Paulo explica que “nossos pais estiveram todos
debaixo da nuvem e passaram o mar”. Deus fez maravilhas para eles. Qual a
resposta? “A maior parte deles desagradou a Deus. Morreram e ficaram no
deserto” (Ex 10,1.5).
O que faltou em Deus para fazer bem ao povo? Qual a resposta? Esterilidade! A
parábola sobre a figueira estéril sintetiza bem a história do povo: Um homem
tinha uma figueira e foi buscar figos e não encontrou. Mandou que fosse
cortada, pois ocupava espaço. O vinhateiro lhe disse: “Senhor, deixa a figueira
ainda este ano. Vou cavar em volta dela e colocar adubo. Pode ser que venha dar
fruto. Se não der, então tu a cortarás” (Lc 11,8-9). Deus busca frutos em nós. O fato
de sermos povo de Deus não nos garante. O que garante é a constante conversão. O
povo viveu momentos grandiosos da bondade de Deus e não soube corresponder.
Paulo diz que esses fatos aconteceram para ser um exemplo para não fazermos o
que fizeram. E diz também “Quem julga estar de pé tome cuidado para não cair” (1Cor 10,12). É um alerta
forte para que não nos sentamos seguros na vida de fé e na prática da vida
cristã. É necessária uma permanente conversão. Esse negócio de dizer que Jesus
já me salvou ou sou ungido, já sou padre etc... Jesus responde: “Mas se não vos
converterdes, vós ireis morrer do mesmo modo” (Lc 13,5).
Misericórdia
que salva
“Eterna é sua misericórdia”. A
todos é dado o tempo da paciência de Deus que é eterna. Se nos ocorrem coisas difíceis,
podemos ver que não vêm de Deus, mas de nossa fragilidade ou cabeça dura, como
ocorreu com o povo no deserto. Moisés dizia: “Esse povo tem cabeça dura” (Ex 32,9). Mesmo assim
Deus sempre vem ao nosso encontro com novas propostas de vida. Rezamos no
salmo: “A maior proposta é Jesus que é a expressão do amor de Deus. Jesus
demonstra sua condição de Deus perdoando, amando, cuidado de todos, sobretudo
dos pecadores. Temos diversas parábolas e gestos que narram essa misericórdia como
“a ovelha perdida”, “o pai misericordioso” (o filho pródigo), Zaqueu, o jantar
na casa de Mateus, os perdoados, os doentes curados, endemoniados libertados.
Como preparação para a Páscoa, lemos que a festa não é somente um
acontecimento, mas é a realização plena da misericórdia de Deus que dá Vida.
Jesus sofredor assumiu nossas dores e “se fez pecado por nós” (2Cor 5,21). A Ressurreição
de Jesus é a expressão da misericórdia de Deus que em Jesus perdoa a todos, com
amor total.
Manifestar
o que o sacramento realizou
A
oração pós-comunhão ensina como a conversão conduz à vivência cristã: “Já
saciados na terra com o pão do céu, nós vos pedimos a graça de manifestar em
nossa vida o que o sacramento realizou em nós” (Pós-Comunhão). A atitude de fé conduz à
prática. O sacramento não é somente um ato religioso, mas um dinamismo que leva
a agir produzindo frutos. A figueira só tem sentido ocupar espaço no jardim se
produz frutos. Frutos são sinal de vida. O tempo quaresmal é um sacramento,
como nos diz a oração do primeiro domingo. Sacramento é um símbolo que realiza
o que explica. O sacramento da Quaresma anuncia a Palavra que nos instrui para
a compreensão do Mistério Pascal e nos purifica pelas ações coerentes com o que
foi anunciado.
Leituras: Êxodo 3,1-8ª.13-15;Salmo 102; 1ª
Coríntios 10,1-6.10-12;Lucas 13,1-09.
1.
A parábola da figueira, como explica Paulo, que não
podemos repetir a história do povo. Recebeu muito de Deus e não correspondeu. É
necessária a conversão.
2.
Deus sempre tem propostas novas para nossa vida. Sua
misericórdia e paciência são eternas. A ressurreição de Jesus é expressão
máxima da misericórdia do Pai.
3.
A fé conduz a uma atitude prática. O Sacramento
recebido realiza o que significa.
O limite da paciência é a paciência.
Jesus usa uma
imagem interessante para explicar que Deus quer frutos de tudo o que investiu
em nós em toda a história da salvação. Contou a parábola da figueira que um
homem plantou e cuidou bem. Quanto foi buscar os frutos por três anos seguidos
não encontrou. Então disse a empregado: Corta-a porque está inutilizando a
terra. O empregado diz: “Vamos esperar um pouco mais. Vou chegar uma terrinha,
colocar adubo. E, se não der, a gente corta”. Deus é paciente e misericordioso.
Os sofrimentos do povo, vistos como castigos, os levavam à conversão. A paciência de Deus é sem limites.
Assim foi sua
história, assim é nossa história: Deus oferece tanta coisa ao povo, como a nós
também foram oferecidas tantas graças e tantos dons. Como fizeram podemos fazer
também: revoltar contra Deus.
O chamado é a sermos
misericordiosos como Deus O foi, sempre dando chances. É preciso ser
misericordioso com a gente mesmo, sabendo que temos direito a novas chances,
pois somos sempre frágeis.
Deus enviou
Moisés para libertar o povo. Mostrou sua preocupação e desceu para salvar o
povo do sofrimento. Paulo explica que, mesmo conhecendo o que Deus fizera, o povo
ainda se revoltou contra Êle. Nós podemos fazer o mesmo. Por isso Paulo diz:
“Quem está de pé, veja de não cair” (1Cor 10,12). Por isso Jesus
insiste na conversão permanente. Vivamos lembrando os benefícios de Deus:
“Bendize, minha alma, ao Senhor, não te esqueças de nenhum de seus benefícios” (Sl 102).
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