PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
518. Assembléia
do Povo de Deus
Na liturgia do século IV, descrita por S. Hipólito
de Roma, há uma bênção muito interessante: A bênção do queijo (esse santo deve
ter morado em Minas). Nela se diz: “Abençoa este leite coagulado, e coagula-nos
à vossa caridade” (Tradição Apostólica). O autor não usa a comparação da junção
de peças em um conjunto ou partes de um corpo, mas a mudança de um líquido em
um sólido: Somos coagulados ao amor de Cristo, como uma única realidade, unidos
a sua pessoa. Se percorrermos a Escritura, veremos o termo “santa assembléia” (a
convocação de Javé - Kahal Iahveh). O
povo é tido como uma unidade. Não há tanto a preocupação com o indivíduo, mas,
com sua pertença a um povo. Esse povo é convocado por Deus para assembléias
solenes: No Sinai (Êxodo 19ss), do outro
lado do Jordão (Deuteronômio 29); na renovação
da aliança em Siquém (Josué 24); a
assembléia convocada por Esdras, para a leitura da lei (Neemias 8,1-12); a convocação para as festas (Êxodo 23,14-19). Estas assembléias são do Antigo
Testamento. Em o Novo Testamento ,
encontramos a grande convocação no dia do Pentecostes (Atos 2,1-13). A maior convocação do Evangelho está nas palavras
de Jesus: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio
deles” (Mt 18,20). Cada Eucaristia é
assembléia. É uma convocação para um encontro particular do povo com seu Deus.
E esperamos a “assembléia dos primogênitos que tem seus nomes inscritos nos
céus” (Hb 12,23 –Ap.21,2). A palavra
igreja, em grego, ekklesía, vem do
verbo kaleo que significa chamar,
convocar, como em
hebraico. Há um chamado de Deus para se reunirem como num só
corpo, como escreve Neemias: “Todo o povo se reuniu como só homem na praça situada defronte da porta das Águas” (Ne 8,1).
619.
Convocados pelo Espírito
A assembléia não é somente
um fato social ou uma grande reunião festiva. É uma comunhão no Espírito Santo,
como rezamos no início da missa, usando o texto de Paulo: “Que a graça do
Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam com
todos vós” (2Cor 13,13). O amor do Pai se manifesta na graça de Cristo,
a qual gera a comunhão do Espírito Santo, ou seja a fraternidade que é obra
dele, e cria a comunidade com Ele (Bíblia de
Aparecida, nota). A assembléia do Novo Testamento realiza o projeto
fundamental de Jesus: “Para que também eles sejam um, como vós, ó Pai, estais
em mim e eu em vós, para que também eles sejam um em nós, a fim de que o mundo
creia que vós me enviastes” (Jo 17,21). A assembléia é a reunião povo, mas
também a união da Trindade. O ser um da Trindade, à qual estamos unidos por sua
permanência em nós, realiza em nós a unidade. A unidade é o sentido da
assembléia do Novo Testamento.
520.
Assembléia celebrante
Somos convocados, pelo Espírito, para a assembléia na
qual acontece a celebração litúrgica. Ele transforma o ajuntamento de pessoas
em corpo de Cristo que se oferece ao Pai. Ele faz de nos um único corpo, pois
rezamos “pela comunhão do Corpo e Sangue de Cristo, para que sejamos reunidos
pelo Espírito Santo, num só corpo. Faz de nós união com Cristo e união com
todos os membros de Cristo. A partir desta realidade, nós nos abrimos a uma
maior compreensão da celebração. Ela não pode ser considerada um rito que se
realiza, ou um texto que se lê, mas mistério de união que se celebra. Decorre
também que a vida cristã deve superar o individualismo espiritual, e passar a
valorizar a participação. Rezar sozinho é bom e necessário, mas não substitui a
oração como comunidade para sermos coagulados ao amor de Cristo. Participar é
já um dom.
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