PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
533.
Um coração ferido
Celebramos, depois de Corpus
Christi, a festa do Sagrado Coração. Desde a Idade Média e, com grande
desenvolvimento no século XVII e seguintes, afirmou-se muito a devoção ao
Sagrado Coração. O culto público ao Sagrado Coração
foi consolidado em 1765, por Clemente
XIII, ao introduzir sua festa litúrgica, com Missa e ofícios próprios.
Esse culto penetrou profundamente a vida da comunidade cristã, a família e as
instituições. Lembro-me, quando era menino, ter sido realizada, em minha casa,
a entronização do quadro dos Sagrados Corações de Jesus e Maria. Era muito
apreciada a novena de comunhões das primeiras sextas-feiras. Grande era o
proveito espiritual. A festa difere das outras do tempo litúrgico por
centrar-se mais em uma devoção. Pelo desenvolvimento litúrgico, ela recebe uma reformulação,
passando da devoção para uma fundamentação mais consistente, centrada no grande
amor de Deus pela humanidade em dar seu Filho. Esse amor é expresso na imagem
do Coração do amado Filho. Rezamos na Missa: “Alegrando-nos pela solenidade do
Coração de vosso Filho, meditemos as maravilhas de seu amor e possamos receber,
desta fonte da vida, uma torrente de graças” (Oração). Devemos
partir do coração de Jesus, ferido pela lança do soldado. “Elevado na
cruz, entregou-se por nós com imenso amor. E, de seu lado aberto pela lança,
fez jorrar, com a água e o sangue
(Jo 19,34), os sacramentos da Igreja, para que todos, atraídos ao seu
Coração possam beber, com perene alegria, na fonte salvadora”(Prefácio). As profecias
anunciaram, como o profeta Zacarias escreve: “Naquele dia haverá uma
fonte aberta para a casa de Davi, e para os habitantes de Jerusalém, para
remover o pecado e a impureza” (Zc 13.1). Não
se trata só de purificação, mas de amor. Deus nos olha através do coração de
seu Filho: “Considerai, ó Deus, o indizível amor do Coração do vosso amado
filho” (Oferendas).
534.
Rios de águas vivas
A Palavra de Deus orienta-nos a buscar,
nessa celebração, a fonte de amor que brota do coração do Pai e jorra para nós
do coração do Filho e é implantada em nosso coração pelo Espírito: “Deus O
Senhor se afeiçoou a vós e vos escolheu ... porque o Senhor vos amou e quis
cumprir o juramento feito a vossos pais” (Dt
7,7-8). Deste amor provêm todas as graças: “Possamos receber desta fonte
da vida uma torrente de graças” (Oração). Não
podemos entender “graças” como dons separados de Cristo. Ele é para nós a
Graça. “Porque a Graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos os
homens” (Tt 2.11). Viver a Graça é deixar
agir o Espírito: “Aquele que crê em mim, de seu seio jorrarão rios de água viva”(Jo 7,38). O amor de Deus em nossos corações é
uma fonte de vida.
535.
Bebendo nas fontes do Salvador
Lembramos,
nessa celebração, o convite de Jesus para estar com Ele: “Vinde a mim, vós
todos que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos pecados, e eu vos
darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso
e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Pois o meu jugo é suave e
meu fardo e leve” (Mt 11,28-30). Bebendo
das fontes: “Com alegria buscareis água nas fontes da salvação” (Is 12,3). “Que este sacramento da caridade nos
inflame em vosso amor, e sempre voltados para o vosso Filho, aprendamos a
reconhecê-lo em cada irmão” (pós-comunhão).
O amor de Cristo nos impele a amar os irmãos. Em cada celebração, bebemos dessa
fonte para distribuí-la aos irmãos. O Coração Eucarístico de Jesus é fonte de
serviço de amor aos irmãos. A devoção ao Sagrado Coração só será verdadeira, se
nos levar ao amor.
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