PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
433. Conversão de um corpo
Temos refletido sobre a espiritualidade a partir da comunidade, Corpo
de Cristo. Apesar de estarmos muito unidos a Cristo, como membros de seu corpo,
não podemos deixar de lembrar que estamos em contínuo processo de conversão.
Esta é a arma mais eficaz para a santificação. Todos precisam converter-se. A
conversão é a condição espiritual de quem vive a fragilidade da carne. Ser
frágil não é uma coisa má, pois Jesus participou dessa fragilidade, menos no
pecado (Hb 4,14). É uma luta permanente e exigente, mas não desesperadora. A
carta aos Hebreus escreve que ainda não resistimos até o sangue em nosso
combate contra o pecado (Hb 12,4). A conversão exige um permanente esforço para
corresponder a Cristo que é Vida e Evangelho. Conversão é revestir-se desse
homem novo, feito à imagem de Cristo crucificado e ressuscitado, de modo que se
purifique todo nosso modo de julgar e agir. Revestir-se não significa pôr uma
roupa, mas transformar-se sempre mais na pessoa de Cristo, para ser criatura
nova. Nós nos convertemos dos pecados íntimos que, mesmo sendo ocultos, atingem
a vida de todo o corpo tirando-lhe o vigor. Nós nos convertemos de nossos
pecados sociais que fazem sofrer os membros de Cristo, sobretudo os pobres. A
justiça social não é política, é um profundo processo de espiritualidade, pois
fere Cristo em seus membros mais frágeis que são os pobres. Nós nos
converteremos no modo de ser Igreja, pois essa comunidade precisa rever seu
modo de vida, seus métodos, suas dinâmicas para corresponder sempre mais ao
Evangelho. Até mesmo as estruturas físicas, bem-estar, devem ser convertidas
para serem sinais mais eficazes de Cristo, que se fez pobre para nos enriquecer
com sua pobreza. Os bens da Igreja são dos pobres, somos apenas
administradores, dizia S. Afonso.
434. Saber perder para ganhar
O processo de conversão passa pela abnegação. Essa palavra tem um mau
conceito, significando destruição da pessoa humana. Contudo, ela tem seu lado
positivo: despojar-se do que nos impede de crescer. Ela elimina o egoísmo e
abre livre e largamente os corações aos outros. É preciso sair do domínio do
mal, deixar de ser escravo de vícios para ser filho livre e praticar o bem. Saindo
de si mesmo, vencendo o egoísmo cresce o amor fraterno. Todos ganham. Sair de
si para se dedicar aos outros, no serviço humilde e desinteressado.
435. Maior conversão
Toda a vida cristã deve ser marcada pela conversão do coração. Ali,
como chamamos, é a sede de nosso encontro com Deus. O coração revestido de
Cristo estará cheio de Deus. Essa é a maior conversão: uma vida plena de Deus.
É a vida em
abundância. Deus é fonte e destino de tudo o que somos e
temos. Isso nós realizamos como Corpo de Cristo, como comunidade. A ação do
Espírito em nós realizará profundamente aquilo que suplicamos em cada missa: “Nós
vos suplicamos que participando da comunhão do Corpo e Sangue de Cristo,
possamos ser reunidos pelo Espírito em um só corpo”. Estando unidos a Cristo
pelo Espírito, nós estamos no coração da Trindade Santa. Nós vivemos uma
comunidade que tem somente a característica social. É um grupo, uma Igreja. Não
vemos, mas se realiza imensamente essa “Koinonia” – Comunhão que supera
qualquer laço social de amizade. Ela é comunhão divina. Para isso é que nos
convertemos. Certamente que se exige a conversão do que impede o crescimento da
vida divina em nós. Jesus
diz: Convertei-os e crede no Evangelho (Mc 1,15)
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