PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
400. Presença de Maria na Igreja
Que bom saber que Maria, Nossa Senhora, está sempre
presente na Igreja. É uma característica dos verdadeiros cristãos terem por ela
uma especial devoção. Essa devoção chama-se hiperdulia,
isto é, grande veneração. Aos santos prestamos culto de veneração (dulia). Por
Deus temos o culto de adoração (latria).
Adoração significa ter Deus como fonte e fim de nossas vidas. Rezando diante de
Deus, nós reconhecemos sua divindade e a Ele nos unimos. Quando rezamos aos
santos, nós nos unimos a sua oração de adoração a Deus e com eles O adoramos.
Ninguém adora imagem. Respeitamos enquanto símbolo. São importantes enquanto
representam a pessoa que cultuamos. O que fazemos à imagem, não o fazemos a seu
material, mas à pessoa representada. Quando rezamos a Nossa Senhora, estamos
manifestando um amor especial porque ela está indissoluvelmente unida à obra da
redenção de Cristo. Deus, na encarnação do Filho, usou aquilo que entendemos:
pessoas e coisas. Assim entramos em contato com Deus através de Cristo. Cristo
quis nascer de uma mulher, por obra do Espírito Santo, ficando ela para sempre
unida a Ele e à obra de redenção que realizou. Se cortarmos a árvore, cortamos
a vida que o caule leva ao fruto. Por causa dessa união, Maria está presente no
povo de Deus de modo especial, a partir de sua condição humana, como nós, e a
partir de sua união a Cristo pela encarnação. Maria não foi uma simples
“barriga de aluguel” que Deus usou. Está intimamente unida ao Filho em todas as
etapas de sua vida, por tê-lo acolhido na encarnação e por ter continuado a seu
lado como primeira discípula. Ao pé da Cruz é dada como mãe ao discípulo,
gerando os filhos da redenção. O evangelho diz que o “discípulo” a levou para
sua casa. Está com os discípulos em Pentecostes concebendo o novo povo.
401. Maria na espiritualidade
Celebrando o Mistério Pascal de Cristo, celebramos Maria. Em cada
celebração festejamos Maria porque ela faz parte da Igreja. Esta a contempla e
dela acolhe o modelo para viver a vida nova que Cristo nos deu e renova em cada
celebração. O modo de viver dos cristãos traz consigo a necessidade de ter
Maria como modelo, intercessora e co-redentora. As atitudes de Maria, seu modo
de acolher o mistério de Deus, sua abertura a sua Palavra, seu empenho em conduzir Jesus ao
crescimento, são para nós o modelo e estímulo na vida espiritual. Não há
espiritualidade que não seja mariana, não pela devoção, mas pela própria estrutura
espiritual. Onde está Cristo está Maria, como estão os santos e todos os que
buscam a Deus. Dentro dessa dimensão, o culto não será algo só racional, mas
assumirá nossa condição humana, usando os ricos detalhes que nossa bela
natureza possui, como o carinho, os gestos, as contribuições da cultura, a
criatividade sempre crescente que lhe enfeita as mil faces de Maria. Ela tem o
rosto de cada tempo em todos os tempos. Sem Maria a espiritualidade perde a
consistência.
402. Devoção bem regrada
Chegou-se a ter medo que o culto a Maria fizesse
sombra a Jesus. Certamente o bom senso é sempre uma boa medida. Mas S. Bernardo
diz que nunca falamos demais de Maria (De Maria nunquam satis). Por mais que
exageremos, sempre será pouco. Basta que seja colocada em seu lugar, não como
substituta de Deus, nem uma forma diferente do Espírito, mas sempre como alguém
dado a nós por Deus e também humana como nós. Ela intercede por nós em sua
mediação suplicante. Ela nos apresenta a Deus como apresentou seu Filho. O que
fez a Jesus fa-lo-á a nós, pelo motivo que seu Filho continua em nós.
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