terça-feira, 8 de setembro de 2015

REFLETINDO A PALAVRA - “Chamados a anunciar o Reino”

PADRE LUIZ CARLOS
DE OLIVEIRA CSsR
Enviou-os dois a dois
O evangelho de Lucas é um contínuo caminho de Jesus para Jerusalém. Nesse caminho Ele envolve e envia 72 discípulos para onde Ele deveria anunciar. Antes escolhera os 12 apóstolos que são a base do novo povo, como as 12 tribos que são a base do povo de Deus do Antigo Testamento. Os 72 discípulos estão recordando os 72 homens respeitáveis que Moisés reuniu para a grande experiência de cear com Deus (Nm 11,16). Os 72 discípulos partem também de uma experiência com Jesus. Jesus forma assim a comunidade do novo povo de Deus. Essa comunidade é responsável pelo anúncio do Reino. Ele afirma que a “plantação é grande, mas os operários são poucos” (Lc 10,2). Por que pedir operários ao dono da plantação? Porque é Deus quem envia o operário. Não é uma empresa que procura se instalar. Devem ir “dois a dois”, como testemunhas qualificadas do evangelho (Dt 19,15). Para anunciar é preciso ser comunidade, primeiro vivendo, depois anunciando. A situação de quem anuncia é de ser ovelhas no meio de lobos. Isto está a indicar que estarão sujeitos à recusa no mundo em que vão entrar. Ela é fruto do mal. Mesmo assim, deverão ir como ovelhas, desarmados e despojados, pois implantam a paz e não uma guerra. Por que não cumprimentar as pessoas pelo caminho? As saudações orientais são longas visitas e envolvem mais que um bom dia. Devem cuidar que sua palavra seja só anúncio. Deverão ficar em uma casa só. A casa que acolhe é, na verdade, a base de comunidade. É o primeiro núcleo. O operário vive da comunidade, sem ser pesado a ela. Não se trata de um passeio e de andanças sem sentido. Estão implantando o novo Reino, anunciando-o já próximo, vindo na pessoa de Jesus. A recusa, inexplicável, não tira a chance de se dar o anúncio que é já um julgamento pesado (12). Aceitar o anúncio do Reino é já uma mudança de situação.
A paz esteja nesta casa
A saudação que o discípulo faz é uma proclamação do Reino da Paz. “Ele é nossa paz” (Ef 2,14). O Reino vem como paz. Se por um lado paz significa abundância de todos os bens que Deus oferece, por outro é uma busca de renovação do mundo através do evangelho. A presença do discípulo é um momento de cura total. O profeta já anunciava que vai correr para Jerusalém a paz como um rio (Is 66,12). Jesus diz: “Curai os doentes que nela houver” (Lc 10,9). Curar é a resposta generosa do discípulo. É iniciar uma saúde nova nascida da paz. Devem anunciar a proximidade do Reino que é Jesus. Ele dá a metodologia de trabalho que é o desapego dos meios que pesem seu trabalho, a concentração no trabalho, evitando a dispersão, permanecendo na mesma casa. Para nós, o centro de nossa missão é Jesus Cristo, pelo qual vale perder o mundo, como afirma Paulo: “Por Cristo o mundo está crucificado para mim, como eu estou para o mundo” (Gl 6,14). Mas é de grande alegria e ternura, como uma mãe que sacia e acaricia (Is 62, 10,14c).
Nomes escritos no Céu
Quando os discípulos voltam, contam para Jesus que até o demônio lhes obedecia por causa do nome Dele. Jesus afirma que viu o demônio cair como um raio. E explica o efeito que sua missão tem sobre o mal. Isso não é o mais importante, o que importa é que seus nomes estão escritos no Céu (20). A missão une a vitória de Jesus sobre o mal e a morte. Não é uma recompensa, mas é a identificação do evangelizador com Jesus, como diz Paulo, “trago em meu corpo as marcas de Jesus” (Gl 6,17). É um rio de paz que corre para a comunidade que acolhe o anúncio. O carinho de Deus é como a mãe que acaricia no colo.

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