PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
Enviou-os dois a dois
O evangelho de Lucas é um contínuo caminho de Jesus
para Jerusalém. Nesse caminho Ele envolve e envia 72 discípulos para onde Ele
deveria anunciar. Antes escolhera os 12 apóstolos que são a base do novo povo,
como as 12 tribos que são a base do povo de Deus do Antigo Testamento. Os 72
discípulos estão recordando os 72 homens respeitáveis que Moisés reuniu para a
grande experiência de cear com Deus (Nm 11,16). Os 72 discípulos partem também
de uma experiência com Jesus. Jesus forma assim a comunidade do novo povo de
Deus. Essa comunidade é responsável pelo anúncio do Reino. Ele afirma que a
“plantação é grande, mas os operários são poucos” (Lc 10,2). Por que pedir
operários ao dono da plantação? Porque é Deus quem envia o operário. Não é uma
empresa que procura se instalar. Devem ir “dois a dois”, como testemunhas
qualificadas do evangelho (Dt 19,15). Para anunciar é preciso ser comunidade,
primeiro vivendo, depois anunciando. A situação de quem anuncia é de ser
ovelhas no meio de lobos. Isto está a indicar que estarão sujeitos à recusa no
mundo em que vão entrar. Ela é fruto do mal. Mesmo assim, deverão ir como
ovelhas, desarmados e despojados, pois implantam a paz e não uma guerra. Por
que não cumprimentar as pessoas pelo caminho? As saudações orientais são longas
visitas e envolvem mais que um bom dia. Devem cuidar que sua palavra seja só
anúncio. Deverão ficar em uma casa só. A casa que acolhe é, na verdade, a base
de comunidade. É o primeiro núcleo. O operário vive da comunidade, sem ser
pesado a ela. Não se trata de um passeio e de andanças sem sentido. Estão
implantando o novo Reino, anunciando-o já próximo, vindo na pessoa de Jesus. A
recusa, inexplicável, não tira a chance de se dar o anúncio que é já um
julgamento pesado (12). Aceitar o anúncio do Reino é já uma mudança de
situação.
A paz esteja nesta casa
A saudação que o discípulo faz é uma proclamação do
Reino da Paz. “Ele é nossa paz” (Ef 2,14). O Reino vem como paz. Se por um lado
paz significa abundância de todos os
bens que Deus oferece, por outro é uma busca de renovação do mundo através do
evangelho. A presença do discípulo é um momento de cura total. O profeta já
anunciava que vai correr para Jerusalém a paz como um rio (Is 66,12). Jesus
diz: “Curai os doentes que nela houver” (Lc 10,9). Curar é a resposta generosa
do discípulo. É iniciar uma saúde nova nascida da paz. Devem anunciar a
proximidade do Reino que é Jesus. Ele dá a metodologia de trabalho que é o
desapego dos meios que pesem seu trabalho, a concentração no trabalho, evitando
a dispersão, permanecendo na mesma casa. Para nós, o centro de nossa missão é
Jesus Cristo, pelo qual vale perder o mundo, como afirma Paulo: “Por Cristo o
mundo está crucificado para mim, como eu estou para o mundo” (Gl 6,14). Mas é
de grande alegria e ternura, como uma mãe que sacia e acaricia (Is 62, 10,14c).
Nomes escritos no Céu
Quando os discípulos voltam, contam para Jesus que até
o demônio lhes obedecia por causa do nome Dele. Jesus afirma que viu o demônio
cair como um raio. E explica o efeito que sua missão tem sobre o mal. Isso não
é o mais importante, o que importa é que seus nomes estão escritos no Céu (20).
A missão une a vitória de Jesus sobre o mal e a morte. Não é uma recompensa,
mas é a identificação do evangelizador com Jesus, como diz Paulo, “trago em meu
corpo as marcas de Jesus” (Gl 6,17). É um rio de paz que corre para a
comunidade que acolhe o anúncio. O carinho de Deus é como a mãe que acaricia no
colo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário