PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
379. Ressurreição em ato
Jesus foi a grande novidade na história do universo, longa para nós e
sempre curta diante da eternidade de Deus. Na encarnação do Filho, Deus entra
nesse universo e assume a condição humana. É inaudito contemplar a realidade de
Deus que se faz homem assumindo em si todo universo, pois Jesus não foi somente
carne humana, mas estava unido, como todo homem, a todo o criado. Por isso
Paulo escreve que Deus quis reconciliar em Cristo todo o universo (Cl 1,20).
Ele atrai a Si o mundo criado. A encarnação de Jesus não é somente para uma
redenção do pecado, mas a comunicação da própria vida divina. Deus não somente
quis criar, mas quis partilhar. Na celebração do Mistério do Natal e da Páscoa
encontramos a idéia de troca de dons entre o céu e a terra. Damos humanidade e
recebemos divindade. Se inaudita foi a
vinda de Deus, incompreensível foi a recusa da humanidade, expressa pelos
chefes do povo judeu. A recusa que leva Jesus à morte, é vencida pela “entrega
até o fim” que faz de Si. A Ressurreição é a resposta do Pai ao Filho “obediente
até à morte e morte de cruz” (Fl 2,8). Como a Encarnação envolve todo o
universo, a Ressurreição, mais ainda, inicia a vertiginosa corrida para Deus
(Telliard Chardin). É uma força de renovação. A Ressurreição penetra a
humanidade e tudo que a cerca. O imenso mundo, que tem sabor de infinito, foi
iluminado por Cristo. Paulo nos escreve que esse mundo também, como em dores de
parto, suspirava pela libertação (Rm 8,21-22). Jesus não veio para um
punhadinho de gente. Seus discípulos são proclamadores dessa redenção e vida
nova, mesmo sendo poucos. A Ressurreição está sempre em ação no mundo. Se a
humana exigência quer ver os resultados imediatos, Jesus responde, como diz o
Papa Bento XVI, mostrando as chagas presentes no corpo do Ressuscitado. O Corpo
de Cristo que é a Igreja, e unido a ela, o universo, traz em si as marcas dos
cravos. A redenção deve penetrar todas as realidades.
380. Como eu vos amei
Jesus não deu somente um mandamento que fosse vivido
pelos seus, mas que fosse caminho, modelo e meio eficaz para tornar presente a
força do amor da Ressurreição. Jesus afirma “como vos amei”. Esse é o meio
proposto por Ele. Seu modo de ser expressa a vida que levou entre nós, a Seu
modo. Estar unido a Cristo é estar unido, não só ao seu lado espiritual, mas ao
seu modo de viver. Estamos habituados a ouvir as palavras vida divina, Cristo em nós,
unir-se a Cristo, cheios do Espírito,
ungidos. Mas como? Através de nossa opção de fazer a vida como Ele a fez.
Pedro prega ao falar de Jesus: “Ele passou entre nós, fazendo o bem” (At
10,38). Se amarmos como Ele o fez, estamos unidos a Ele. E fazemos o que Ele
fez. João nos escreve: “Deve andar como Ele andou” (1Jo 2,6).
381. Assim serão meus discípulos
Jesus, em seu ensinamento, insiste nessa união de vida e
de atitudes: “Tome sua cruz e siga-me” (Lc 9,23); onde eu estiver ali está o
meu servo (Jo 12,26); no lava-pés manda fazer como Ele fez (Jo 13,15); o amor
mútuo será o meio de ser reconhecido comodiscípulo (Jo 13,35). O que mais me
assusta é que a Pessoa de Jesus não faz parte da vida dos fiéis. Jesus é uma
idéia e não uma pessoa. Seu ensinamento (pouco conhecido) são teorias, e não
projeto assumido através da fé. Mesmo nos ensinamentos oficiais, percebemos um
conjunto de idéias que, mesmo belas, não tocam a vida. Os ritos das celebrações
não partem das pessoas, da realidade. Por isso não são entendidos nem vividos.
Como fazer para chegar a uma autêntica celebração, a uma autêntica vida com
Cristo? Fazendo como Ele o fez. Seguindo suas pegadas. “Nisso é glorificado meu
Pai, que deis muito fruto”(Jo 15,8).
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