quinta-feira, 16 de julho de 2015

REFLETINDO A PALAVRA - “Lançai as redes para a pesca”

PADRE LUIZ CARLOS
DE OLIVEIRA CSsR
Anunciando a Palavra
            O Evangelho de Lucas, depois da introdução do ministério de Jesus, relata o chamado dos discípulos e a escolha dos 12. Escolhe-os na montanha, depois de uma noite de oração, como veremos no capítulo 6. Lucas relata que a primeira ação do Senhor batizado no Espírito foi o anúncio do Reino e logo depois a vocação dos discípulos. No trecho de hoje, lemos que a multidão o apertava para ouvir a Palavra de Deus. Ali havia barcas, homens consertando rede e o resultado de uma pesca: nada! (Lc 5,1-2). Jesus usa uma barca para ensinar o povo. Além de simbólico, é prático, pois aumenta a força da voz. Esse texto de hoje, tão humano, tão singelo, prepara o chamado dos discípulos: a missão de anunciar na Igreja. A pregação é missão dos discípulos que continuam a missão de Jesus na Igreja. Segue-se a segunda cena: Jesus pede a Pedro que vá para as águas mais profundas e lance as redes. Pedro diz: “trabalhamos a noite toda e não pescamos nada. Mas em atenção a tua palavra, vou lançar as redes” (5). A força anunciadora de Jesus está presente quando se lançam as redes do Reino em seu nome. O resultado é estonteante. Enchem duas barcas. Maravilha! O poder da palavra de Jesus está presente quando se aventura no anúncio do Reino. “Sem Mim nada podeis fazer, diz Jesus” (Jo 15,5). Toda a cena da pesca e o chamado são indicações para seus discípulos sobre o sentido e a força da Palavra pregada na Igreja por membros frágeis.
Pescador de homens
            Segue-se a cena da humildade de Pedro, sem poder sair do barco, pede que Jesus se afaste dele, pois é um homem pecador. Chamando-o de Senhor  (Kyrios), reconhece sua divindade. Pedro parece sentir que não pode se misturar com as coisas preciosas do Reino (8). O reconhecimento da própria indignidade é necessário para poder acolher a grandiosidade da ação de Jesus. Pedro vê que Jesus está além dele. Jesus reconhece sua fragilidade e mesmo a acentua em outros lugares. Mas não partilha esse pensamento e o escolhe o frágil para o ministério da pregação: “De hoje em diante serás pescador de homens” (10). É curioso notar que as redes quase se rompiam com os peixes (6). Depois da Ressurreição, na outra pesca diz-se que as redes não se romperam (Jo 21.8). Quando Jesus insiste em não temerem, está introduzindo os discípulos numa manifestação de Deus, como podemos ler em Isaías (6,3-8): Isaias tem aí uma visão magnífica de Deus. Sabe-se impuro, mas tocado pela brasa do altar, fica livre do pecado. A presença do Ressuscitado fortalece os discípulos e lhes põe na boca a Palavra. O efeito da pesca não vem da força ou da experiência, mas de Jesus presente em sua Igreja. O clima místico do milagre pode levar o seguidor de Jesus a distanciar-se do povo. Acontece ali um abandono de tudo. Agora o modo de anuncia é diferente: na força de Jesus.
O que recebi, transmiti
            Essa força de Jesus está presente na Igreja. Paulo diz-nos que seu ministério não é uma invenção pessoal, mas a experiência de ter recebido de outros a Tradição, quer dizer, a verdade que passa sem erro, pois se funda na experiência de Cristo ressuscitado. Paulo recebeu a experiência da comunidade e, ele próprio, é tocado por essa presença viva de Cristo, como Pedro no barco, como Isaías no templo. Para que a palavra do evangelizador tenha força, além do reconhecimento de sua fragilidade, tem que contar com sua experiência de Cristo. Sem essa, somos vazios, inócuos e inoportunos. 

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