Jesus
passara a noite em oração. O Senhor
do mundo precisa conversar com o seu Pai para fazer suas escolhas. Os apóstolos
nascem do coração do Pai, colhidos pelo Filho. Não é assim que tomamos
decisões. No evangelho de Mateus Jesus sobe o monte e seus discípulos se
achegam dele. É o Moisés legislador da nova lei. Em Lucas, Jesus desce à
planície e conduz os apóstolos que escolheu a estarem com o povo. É lá que vai proclamar
a nova lei. Lucas usa o material escrito por Mateus. São 4 bem-aventuranças, e
quatro infelicidades: “ai de vós...!” Lucas proclama: “Bem-aventurados vós, os
pobres, porque vosso é o Reino de Deus”. A comunidade de Lucas é de fato pobre.
O Reino de Deus é Cristo e o Espírito Santo. “O Reino de Deus não é comida nem
bebida, mas é justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14,17). O pobre de
Lucas é aquele para o qual Deus é a riqueza. Felizes são os que se deixam fazer
pobres por Deus. As riquezas são os bens de Deus. Coitados dos ricos, porque
não querendo ter Deus, se fazem miseráveis, pois os bens passam. À
bem-aventurança da fome promete a saciedade no banquete dos pobres. Lembramos a
parábola dos convidados que recusam o banquete e são convidados os pobres (Lc
14,15-24). A fartura não sacia o coração humano. A terceira proclamação
refere-se aos que choram, porque serão consolados. João escreve: “E Deus
enxugará toda lágrima de seus olhos” (Ap 7,17; Is 25,8). Deus vai dar motivo
para sorrir. Esse motivo é a participação da alegria divina. “Entra para a
alegria do teu Senhor!” (Mt 25,21). As lágrimas dos infelizes, não vêm de
vingança, mas do amargor por ter saciado sua sede no gozo que passa. A quarta bem-aventurança
é a dor e a perseguição. Na ceia Jesus afirma: “Se eles me perseguiram, perseguirão
também a vós” (Jo 15,20). Assim perseguiram os profetas. A recompensa será a
mesma de Jesus: a glória do Pai. Os falsos profetas não dão sustento. Muitos
vivem no afã de apoiar e correr atrás de quem prega o vazio da vida. Jesus
também sofreu e muito para manter-se na verdade sem demagogia, como nos ensina
Lucas.
Ser
como uma árvore
Jeremias
17,5-8 e o salmo 1º retratam aquilo que é a síntese das opções humanas: buscar
o vazio ou ter a confiança em
Deus. O resultado é a vida que se esvai na falta de frutos e
na sequidão, e a vitalidade e a abundância de frutos à beira d’água que tem
sempre vida. Viver as bem-aventuranças é ser saciado pela Água da Vida, daquele
rio que nasce do altar de Deus (Ap 22,1; Ez 47,1). A dimensão do vazio não gera
vida. O salmo e o profeta anotam muito bem que a confiança em Deus, a fé em sua Palavra , a recusa
em assentar-se com os malvados, a alegria de encontrar o prazer na lei de Deus,
fazem do fiel uma pessoa consistente que o vento não leva (Sl 1). Sua vida
frutifica em boas obras.
Caminho
de ressurreição
Paulo não está a comentar essas
leituras, mas seu ensinamento sobre a ressurreição é denso e faz parte da fé
primitiva. Sem a fé na ressurreição de Cristo, nossa fé é vã. Essa fé em Jesus
não é para o momento. Lucas cita que os felizes são pobres, sedentos, dolorosos
e perseguidos. Não esperem outra recompensa que a Ressurreição. Ela é a maior
recompensa e traz em si tudo o que necessitamos. É para depois da morte, mas
começa agora com a mudança das estruturas para uma vida digna para todos, mesmo
para os que possuem, são felizes agora, riem agora, e são elogiados. Não se
trata de condenação, mas de alerta para que se mude do vazio para a plenitude.
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