PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
358. Não saiba a esquerda, o que
faz a direita
No primeiro dia da Quaresma, na
Quarta-Feira de Cinzas, a
liturgia nos orienta como deve ser a vida dos cristãos durante esse tempo
privilegiado. Abre um caminho e depois, nos dias sucessivos, explica comentando-o
com outros passos da Escritura. A Palavra de Deus é abundante na Quaresma.
Seria suficiente para dizer que a Quaresma foi boa, se procurarmos estar
atentos e viver a palavra anunciada. A liturgia toca os pontos fundamentais da
vida cristã: esmola, oração e jejum. Note-se são respostas às três tentações de
Jesus. Mas a indicação básica que orienta essas três atitudes é a discrição de sua
realização. Jesus faz a comparação: faça para Deus e não para ser visto pelos
outros. Condena assim a falta de interioridade de certas pessoas. Fazem para
serem vistos pelos outros. Tempo perdido! “Já receberam sua recompensa!” Jesus
começa pela esmola. Dar esmola, sair de si, pensar nos outros, desapegar-se,
ter Deus como a maior riqueza é o equilíbrio no uso dos bens maravilhosos que
Deus nos dá. Superamos assim a ganância do ter. Com essa atitude poderíamos
solucionar o maior problema do mundo que é o desequilíbrio da sociedade onde há
poucos ricos que tem tudo, e a maioria que não tem o necessário para viver. Isso
sempre existiu, mas nós temos melhores condições de resolvê-lo pela abertura de
coração para com os necessitados. Mudar as estruturas do mundo é sua meta.
Assim, silenciosamente, realizamos a Páscoa nova da humanidade. Esmola não é só
dinheiro ou coisas, mas o amor e a entrega de nós mesmo como um dom.
359. Entra em teu quarto e fala
com o Pai
Essa
é bonita! “Quando vocês rezarem, não façam como os hipócritas, que gostam de
aparecer. Quando for rezar, entre no seu quarto, feche a porta, e reze ao Pai
que está oculto. E o Pai, que vê o que está escondido, dará a recompensa” (Mt
6,5-6). A oração abaixa o orgulho, que é a segunda tentação. Jesus chama a
rezar. Rezar não é fazer discurso a Deus, mas colocar a cabeça em seu colo e,
acariciado por Ele, conversar com intimidade sobre tudo o que a gente é.
Podemos recitar fórmulas, ler, mas o importante é deixar a oração entrar no
coração. O quarto não são só as quatro paredes, mas nosso coração, sacrário do
encontro com Deus. Em nossas orações há muito palavreado, espetáculo de línguas,
euforia, recitação de fórmulas vazias. Tudo bom, mas se não vai para o
interior, perde o valor. Deus mora em mim. É dentro de mim que vou curtir Sua
Palavra, que vou arquitetar o amor da esmola. Rezar é falar com familiaridade
com Deus, como um amigo fala com o outro, como os namorados falam. Pegue seu
celular e telefone para Deus. Mas deixe sempre na vibração, pois Ele retorna. O
coração vibra. Ele fala.
360. Lava o rosto e perfuma-te
“Quando
jejuarem, não mostrem para os outros” (Mt 6,16). Ao contrário, disfarcem pela
alegria. O jejum perdeu muito sua característica de sede de Deus e passou a ser
um jeito inútil de passar fome. Jejum sempre vale. Vale para Deus quando faço a
Ele, na busca de corrigir os defeitos que colocamos na natureza. Não é
emagrecimento das gordurinhas, mas das gorduras dos males acumulados em nosso
ser. O jejum não é só de comida, mas de nossas vontades rebeldes, de nossos gostos
exagerados, de nossa falta de controle da língua, do sexo, da imaginação, das
curiosidades picantes. Jejuar é sair de si para amar, para se dedicar. Ajuda a superar o egoísmo. Vejam o profeta
Isaias (58): “É esse o jejum que eu quero?” Jejum é ter em Deus o maior prazer.
Ele é o alimento que nos sacia. Jesus jejuou 40 dias procurando vencer todas as
tentações.
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