PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
1597.
Como uma conversa de mãe
Papa Francisco tem uma linguagem simples, mas profundamente teológica.
Ele prefere falar como Jesus falava. Falar simples exige muito mais que falar
difícil, pois se trata de conhecer a verdade e ter sabedoria para traduzir à
altura do interlocutor. Refletindo sobre a homilia, como temos visto em sua
Exortação Apostólica Alegria do Evangelho, o Papa usa a imagem da mãe. Diz: “A
Igreja é mãe e prega ao povo como uma mãe fala a seu filho, sabendo que o filho
tem confiança de que tudo o que se lhe ensina é para seu bem, porque se sente
amado” (EG 139).
E indica as conseqüências desta atitude materna a ser usada na homilia. Sabe
reconhecer o que Deus semeou no coração do filho, escuta suas preocupações e
aprende com ele. O amor da família orienta a mãe e o filho no diálogo que
ensina e aprende, corrige e valoriza o que é bom. É bom lembrar que a palavra
espírito em hebraico é feminina. João Paulo I, chamado Papa Sorriso, afirmou
que Deus era também mãe, isto é, age como uma mãe. Podemos dizer que na
Trindade é o Espírito Santo quem manifesta o modo materno de Deus agir. São
modos humanos de compreender nosso bom Deus. É a linguagem materna que dá sabor
de mãe à homilia. Estando no estrangeiro, é muito gostoso ouvir a língua
materna. A homilia não é um país distante, está dentro de nossa casa materna.
Por isso acentua a importância de o diálogo ser cultivado através da
proximidade cordial do pregador. Os conselhos de mãe são sempre guardados,
mesmo se não queridos (EG
140).
1598.
Palavras de corações quentes
Jesus gostava de dialogar com seu
povo. Compete ao pregador fazer sentir esse prazer que o Senhor tinha ao falar
ao povo. Francisco lembra que um diálogo é muito mais do que a comunicação de
uma verdade. Não se reduz a palavras, mas acontece nas pessoas que se entregam.
Tem um caráter sacramental. Lembra S. Paulo que escreve: “A fé surge da
pregação, e a pregação surge da palavra de Cristo” (Rm 10,17). A homilia foi boa, não porque
falou bem, mas porque houve o diálogo dos corações. Quando dizemos, o padre
falou bem, não entendemos nada, pois devemos sair dizendo: Como Deus é bom! “O
diálogo é muito mais do que a comunicação de uma verdade. Realiza-se pelo
prazer de falar e pelo bem concreto que se comunica através das palavras entre
aqueles que se amam”... “A palavra, antes de ser exigência, é dom” (EG 142).
1599.Falando
com o coração
Vejamos que coisa bonita diz Papa
Francisco: “O pregador tem a difícil missão de unir os corações que se amam: o
do Senhor e os corações de seu povo” (EG 143). A formação do povo de Israel se deu com a aliança:
“Vós sereis o meu povo e Eu serei o vosso Deus” (Jr 7,23). Aquele que anuncia a palavra tem
uma missão de anunciar Jesus Cristo. Assim ensina Paulo: “Não pregamos a nós
mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor, e nos consideramos vossos servos, por
amor a Jesus Cristo” (2Cor
4,5). O Papa aprofunda ainda a
dimensão do coração que resplandece na homilia: “Falar com o coração implica
mantê-lo não só ardente, mas também iluminado pela integridade da Revelação e
pelo caminho que essa Palavra percorreu no coração da Igreja e do nosso povo fiel”...
“A identidade cristã é aquele abraço que o Pai nos deu quando pequeninos... e
faz-nos anelar pelo abraço do Pai misericordioso que nos espera na glória” (EG 144). Quando
falamos na homilia estamos entre estes dois abraços. Missão dura: Manter o
sabor do primeiro e esperar o segundo abraço.
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