No momento da criação do homem e da mulher, em Gênesis nos capítulos 1
e 2, vemos Deus dando ao casal humano uma missão voltada para a terra: “Crescei
e multiplicai-vos e enchei a terra e dominai-a” (Gn 1,28), Deus colocou o homem
no Jardim do Éden para que cultivasse
(Gn 2,15). Na condenação pelo pecado, o homem não perde sua dimensão criadora
com Deus de cultivar a terra, agora com o suor do rosto (Gn 3,19). A natureza
impregna toda a Escritura e está unida aos louvores de Deus, como podemos ler
nos salmos: “Tudo canta e grita de alegria” (Sl 64,14). O próprio Jesus tem os
olhos cheios das flores do campo, dos campos maduros para a colheita (Jo 4,35).
Suas parábolas partem sempre de elementos comuns à vida do povo na terra. Notamos
assim a união profunda da pessoa humana com a terra. Mais ainda, podemos
lembrar que o homem foi feito do pó da terra. Adam significa barro vermelho. A
íntima união do homem com a terra se enriquece com a vinda do Salvador que
assumiu a natureza humana, a mesma de Adão. O homem redimido continua sua vida
na terra. Essa natureza, atingida pelo pecado do homem, tem nele o condutor de
sua redenção, “na esperança de ser libertada da escravidão da corrupção para
entrar na liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm 8,21). O homem feito do
pó da terra deixou nela a marca do pecado. Por outro lado é ele também, por sua
união a Cristo Redentor, o condutor dessa natureza ao Criador. O homem e a
mulher são os sacerdotes que, no seu culto espiritual, elevam o universo a
Deus. Quando se diz dominar entendemos
que lhe dá o sentido espiritual e o une a sua função de elevar sacrifícios
espirituais a Deus.
Unidos
ao Cristo sacerdote
Incorporados a Cristo pelo batismo,
os fiéis batizados unem-se a Ele e ao seu sacrifício, na oferta de si mesmo e
de todas suas atividades, oferecendo seus corpos como hóstia viva, santa e
agradável a Deus: esse é o culto espiritual (Rm 12,1-2). Cada pessoa, unida a
Cristo em Suas funções de sacerdote, torna-se com Ele sacerdotal. Sua vida e
atividade é culto espiritual. Em sua relação com o mundo, com a terra, exerce
seu sacrifício, isto é a entrega de sua vontade de acolhimento ao Deus Criador
e Redentor. Celebra assim, no altar da terra o grande louvor da criação.
Daniel, em seu cântico, convida todas as criaturas do céu e da terra a louvarem
a Deus. Faz eco ao salmo que canta: “Os céus cantam a glória de Deus e o
firmamento anuncia a obra de suas mãos...” (Sl 19,1). São Francisco, com o
cântico das criaturas, faz-se sacerdote do universo. Isso não tem nada a ver
diretamente com o sacerdócio ministerial, que antes de ser ministerial, é o já
do universo, como toda pessoa. O sacerdócio ministerial tem função de conduzir esse
povo sacerdotal a Cristo e nEle, celebrar o Pai.
Uma
missão a cumprir
A espiritualidade do sacerdócio do
povo de Deus, em sua ligação com a terra, convida a um respeito sagrado por
tudo o que é da natureza pela dimensão cultual que lhe atribuímos. A missão de
dominar a terra inclui o respeito, a força de desenvolvimento e sobretudo, de
preservação e de salvação para que ela continue a dar vida e vida em abundância. Como
em Jesus dominar é servir, assim, o dito da criação “dominai a terra” é
continuar o serviço de Jesus para que ela tenha vida e vida preservada. O Pai
cuida dos pequeninos (Mt 18,10) e também da natureza. Jesus diz que o Pai do Céu alimenta os
pássaros e veste as flores do campo (Mt 6,25ss). Nossa missão é a mesma do Pai
e de seu Filho, tomando conta desse mundo bonito e fazendo dele, um paraíso.
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