Jesus, com sua palavra, abre-nos à reflexão sobre mais um aspecto importante da vida do cristão
no mundo: ‘o poder e a autoridade’. Como refletimos nos domingos anteriores,
estamos como que revivendo em nossa vida de cristãos as mesmas tentações de
Jesus, que aliás são as fundamentais. Hoje ouvimos ao longe a palavra do
tentador: “Se és o Filho de Deus, atira-te para baixo, pois está escrito que
Ele dará ordem a seus anjos a teu respeito, e eles te tomarão pelas mãos...”
(Mt 4,4). É a tentação do poder. Os dois discípulos, João e Tiago, pedem a
Jesus para estar um a sua esquerda e outro a sua direita quando estiver em sua
glória (Mc 10,35). Os outros apóstolos se irritam contra eles. Ele explica que
os que têm poder, os grandes, oprimem as pessoas. Em seu Reino vai diferente
e diz: Entre vós não deve ser assim! Belo
ensinamento: “quem quiser ser grande, seja vosso servo, quem quiser ser o
primeiro, seja o escravo de todos” (43-44). No Paraíso, o tentador diz a Eva: “sereis
iguais a Deus. Tereis o poder de conhecer o bem e o mal” (Gn 3,5), isto é, sereis
dono de tudo. É entranhado na pessoa humana o desejo de mandar. A criança, com
uma birra, põe todo mundo sob seu poder. Jesus há pouco havia anunciado sua Paixão.
E os discípulos pensavam em
poder. Jesus explica que “o Filho do Homem não veio para ser
servido, mas para servir e dar sua vida como resgate para muitos” (Mc 10,45).
Sua paixão e morte é seu modo de servir à humanidade. Aí se torna o primeiro de
todos “Ele é o primogênito entre os irmãos” (Rm 8,29). Ele é quem manda, porque
serve. Pena que ainda não tenhamos descoberto em nosso ministério que, para
mandar, é preciso servir. Os discípulos aprenderão isso, pois também “eles
beberão o cálice”, isto é, passarão pelo mesmo sofrimento. O Reino está
preparado para os que são pequenos e que fazem a caridade aos pequeninos. A
ordem fundamental para o sacerdócio é o diaconato, o serviço.
A
ciência do sofrimento
Jesus coloca seu sofrimento e sua
morte como um serviço de redenção. A morte de Jesus não foi um acaso para Ele,
mas percebida como uma conseqüência de uma opção e a realização da vontade de Deus.
Ele realiza em si a profecia do servo sofredor que nos é anunciado por Isaías:
“Por esta vida de sofrimento, alcançará luz e uma ciência perfeita. Meu servo,
o justo, fará justos inúmeros homens, carregando sobre si suas culpas”
(53,10-11). Jesus teve a ciência do sofrimento que, por mais que fosse uma
realidade humana, Ele o sofreu dentro da vontade de Deus. Por isso trouxe a
todos a redenção. A essa maneira de viver Ele associa seus discípulos, que com
Ele bebem o cálice da dor e das amarguras pela redenção da humanidade.
Um
sacerdote compassivo
Jesus está a serviço da humanidade.
Deus O fez sumo sacerdote, o mediador entre Deus e a humanidade. Jesus é capaz
de se compadecer de nossas fraquezas, pois “as experimentou, e foi provado em
tudo como nós, com exceção do pecado” (Hb 4,14-15). Isso nos dá confiança de nos
aproximarmos dele para obtermos graça e auxílio (16). Maior é aquele que serve,
afirma Jesus. Seguir Jesus em
sua Paixão , dá-nos a mesma capacidade de serviço e ciência
que nos levará a compreender as pessoas, pois passamos pela mesma provação.
Mesmo marcados pela dor da entrega, somos seus colaboradores na redenção.
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