Jesus, em seu caminho, continua
dando os fundamentos a todas as questões que atingem a vida humana. São três
questões que Marcos apresenta no capítulo 10: o casamento, o dinheiro e o poder.
Notemos que estão aí as três tentações de Jesus, que são as nossas,
exemplificadas na vida das pessoas. Os fariseus apresentam uma dessas,
fundamentados nas Sagradas Escrituras. Colocam uma questão complicada: “Pode o
marido divorciar-se de sua mulher?” Jesus perguntou: “O que Moisés vos ordenou
nas Escrituras?” Responderam: “Moisés permitiu escrever uma certidão de
divórcio e despedi-la” (Mc 10,2). No Deuteronômio pode-se ler: “O marido que
não ama mais sua mulher escreva seu repúdio, dê à mulher e a mande embora” (Dt
24,4). Jesus lembra o mandamento mais antigo, já da Criação: “Os dois serão uma
só carne”. Passam os dois a ser a imagem de Deus e sua semelhança. Unidos por desígnio
divino, uma só existência. Os dois são um modo de unidade querida por Deus. O
divórcio não se justifica. O que Deus uniu não vem da vontade humana, mas da
vontade de Deus que une o casal a si. O casal é imagem e semelhança de Deus. Na
criação Adão deu nome aos animais, o que significa assumir posse. “Mas não
havia entre eles um que lhe fosse igual”, consubstancial. Deus tira uma costela
e faz a mulher. Em hebraico, costela tem também o sentido de vida. É a mesma
vida do homem. Homem e mulher são expressões de uma mesma vida. Ser uma só
carne significa ser uma só vida. Tanto é uma vida que a criança, fruto do
casamento, é expressão maravilhosa dessa vida que gera vida.
Crianças,
a força do Reino
As mães trazem crianças para que
Jesus as toque. Grandiosa cena: Jesus abraça as crianças. Ele, a criança do Pai
do Céu, abraça seus irmãozinhos, mais próximos ao coração do Pai. Ele é Filho
com muitos irmãos. A carta aos Hebreus diz: “Ele não se envergonha de chamá-los
seus irmãos” (Hb 2,11). As crianças são a esperança do Reino. “Deixai que as
crianças venham a mim, não as impeçais.” O Reino é das crianças e dos que se
fazem crianças de Deus. Abençoando as crianças, coloca-as em comunhão intensa
com o Pai e impõe as mãos como sinal dessa comunhão. E reza por elas. Na
ligação com o casamento, a abertura do casal a sua significação maior, que é a
união mútua na união a Deus, está realizando esse mandamento de ser crianças,
isto é, de acolher a comunhão amorosa de Deus que os une e abençoa.
Pelo
sofrimento à glória
Jesus,
o sumo sacerdote, possuía tudo para nossa redenção. Mas precisou fazer a
experiência de sofrimento e tentação para poder compreender o coração humano.
Por isso, “é capaz de socorrer os que são tentados” (Hb 2,18). No matrimônio, o
sofrimento, a luta para realizar sempre mais a união de corpo e de alma, requer
a passagem pela dor do amor. O amor será sempre um sair de si para ir ao
encontro do outro e realizar exteriormente a unidade que o sacramento realiza.
Essa atitude é o que propõe Jesus ao abraçar as crianças: O casal torna
presente o Reino de Deus na medida em que se acolhe como criança. Assim lhe é
dado crescer em Deus e na vida. Se não se tornarem criança que acolhe o outro
como presente, jamais entrarão na dinâmica do Reino de Deus, nem realizarão o
sacramento que é redenção. O salmo 127 reza: “Assim é abençoado o homem que
teme o Senhor. O Senhor te abençoe cada dia de tua vida”.
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