Iniciamos, a partir deste domingo, o
discurso sobre o pão da vida no evangelho de João. Suspende-se a leitura de
Marcos, que será retomada no 22º domingo. Ouvimos, no domingo passado, a
passagem que mostra a compaixão de Jesus para com o povo sofrido. Hoje vemos
essa compaixão na multiplicação dos pães. Socorrer os necessitados é a vocação
primeira de Jesus: “Veio para que todos tenham vida e a tenham em abundância”
(Jo 10,10). No evangelho de João, a multiplicação dos pães, mais que um milagre,
é um sinal. Sinal que nos leva à fé em Jesus. Ele , para solucionar a fome do mundo,
coloca-se a Si próprio como o pão da vida. Esse pão da vida nós o comemos
acreditando nele. O primeiro lugar onde podemos encontrá-lo é na Eucaristia.
Por isso, João, ao iniciar o texto, escreve: “era Páscoa dos Judeus”. É no
momento mais importante para os Judeus, no qual fazem memória de sua salvação, que
Jesus se coloca como Vida, não somente para o corpo, mas para a pessoa total.
Todo esse projeto está simbolizado na multiplicação dos pães. Jesus se preocupa
com o povo. Eram muitos. Para comprar pão para todos, seriam necessários 200
dias de trabalhado, num bom salário. Jesus é a sabedoria que prepara o banquete
e convida a todos os povos (Eclo 24,18-21). A multidão está lembrando isso.
Jesus abençoa o pão, coloca-o na dimensão maior, a partilha, que é a
multiplicação. Para Jesus continuar a ser o pão repartido, Ele coloca os
apóstolos para distribuírem o pão. São eles que levarão a abundância da vida de
Jesus a todos. A vocação misericordiosa de Jesus continua na Igreja através dos
apóstolos, a quem Jesus confia a missão de pregar e de alimentar.
Pequenos
gestos, grandes soluções
Curiosamente, se lermos a Escritura
sob o prisma do pequeno e do frágil, vamos ver que estes estão sempre presentes
nas grandes soluções: Diz André: “Aqui há um menino que tem cinco pães e dois
peixinhos”. É um frágil alimento que o menino levou para seguir Jesus. Jesus
quer precisar de nossa fragilidade. Não sem razão, o salmo coloca a invocação:
“Todos os olhos, Senhor, esperam em vós, e vós lhes dais o alimento no tempo
certo” (Sl 144). Na fragilidade, contamos com o Senhor. Na Eucaristia Ele se
faz presente com a mesma generosidade que marcou sua vida. A atitude de Jesus
de envolver os apóstolos na solução é a comunicação de uma vocação particular
na Igreja: conduzir o fraco a realizar sua vocação, como nos recorda Paulo na
carta aos Efésios: “Eu vos exorto a caminhardes de acordo com a vocação que
recebestes com toda a humildade e mansidão” (Ef 4,1-2). O sustento de nossa
vocação de seguir Jesus está na capacidade de partilhar o pouco que temos, para
que todos tenham muito. Os pequenos gestos de partilha geram a vida
Solução
sócio-espiritual
A Páscoa é a base das soluções que
Jesus oferece. Os milagres foram sinais que Jesus usou para indicar o caminho
para viver como Ele viveu: primeiramente a partir da fragilidade, pois Ele era
um frágil humano que precisou contar com o que temos para instaurar o Reino. Valoriza
o pequeno. Jesus assume também o povo como um todo, mas o quer em grupos onde
se possa viver a partilha. Por isso mandou dividi-los em grupos. Assentados
na abundante relva: Ele é o bom Pastor. Quando vivemos realmente a partilha, conseguimos
a verdadeira espiritualidade que é fazer a passagem natural da eucaristia ao
pão repartido, e do pão repartido a ser eucaristia. Por isso João acena para a
Páscoa.
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