Evangelho segundo S. João 14,21-26.
Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Se alguém aceita os meus mandamentos e
os cumpre, esse realmente Me ama. E quem Me ama será amado por meu Pai e Eu
amá-lo-ei e manifestar-Me-ei a ele». Disse-Lhe Judas, não o Iscariotes:
«Senhor, como é que Te vais manifestar a nós e não ao mundo?» Jesus
respondeu-lhe: «Quem Me ama guardará a minha palavra e meu Pai o amará; Nós
viremos a ele e faremos nele a nossa morada. Quem Me não ama não guarda a
minha palavra. Ora a palavra que ouvis não é minha, mas do Pai que Me enviou. Disse-vos estas coisas, enquanto estava convosco. Mas o Paráclito, o
Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e
vos recordará tudo o que Eu vos disse».
Da Bíblia Sagrada -
Edição dos Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
São João da Cruz (1542-1591), carmelita descalço, doutor da Igreja
O
Monte Carmelo, livro 2, cap. 22
«A palavra que ouvis não é minha, mas é do Pai, que Me
enviou»
A razão principal por que na Lei Antiga eram
lícitas as perguntas que se faziam a Deus, e era justo que os profetas e os
sacerdotes quisessem revelações e visões de Deus, era porque ainda não estava
bem fundamentada a fé nem estabelecida a Lei evangélica. […] Mas agora, […] não
há razão para O interpelar daquela maneira, nem para que Ele agora fale e
responda como então. Porque ao dar-nos, como nos deu, o seu Filho, que é a sua
Palavra (Jo 1,1) – e não tem outra –, Deus disse-nos tudo ao mesmo tempo, e nada
mais tem a revelar.
É este o sentido daquele texto de S. Paulo aos
Hebreus: o que antigamente Deus disse pelos profetas a nossos pais de muitos
modos e de muitas maneiras, agora, por último, nestes dias, disse-nos pelo Filho
de uma só vez (Heb 1,1-2) […]
Portanto, quem agora quisesse
consultar a Deus ou pedir-Lhe alguma visão ou revelação, não só cometeria um
disparate, mas faria agravo a Deus, por não pôr os olhos totalmente em Cristo e
buscar fora dele outra realidade ou novidade.
Deus poderia
responder-lhe desta maneira : «Se já te disse tudo na minha Palavra, que é o meu
Filho – e não tenho outra –, que mais te posso Eu responder agora ou revelar?
Põe os olhos só nele, porque nele tudo disse e revelei, e acharás ainda mais do
que pedes e desejas. […] Fi-lo desde o dia em que desci com o meu Espírito sobre
Ele no monte Tabor dizendo: “Este é o meu Filho muito amado, no qual pus todo o
meu encanto, escutai-O” (Mt 17,5). Já não tenho mais fé para revelar, nem mais
nada para manifestar. Porque, se falava antes, era prometendo a Cristo; e, se Me
interrogavam, as perguntas eram orientadas à petição e esperança de Cristo, no
qual haviam de encontrar o Bem total, como vo-lo explica agora a doutrina dos
evangelistas e dos apóstolos.»
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