A Ceia de Jesus, naquela
quinta-feira, causa-nos uma gostosa impressão. Tem algo de profundamente humano
que nos convida a nos assentamos e saborear não somente os alimentos mas também
as palavras, as imagens e sobretudo a densidade de vida que nos é transmitida
por Jesus. Algumas liturgias chamam este momento de a mística ceia. Mística porque, sendo humana, toca o divino. Jesus é
especialista em resumir Sua
doutrina, Sua vida e nosso futuro em poucas palavras e gestos. A ceia é um
desses. Ali está presente toda a história do povo de Israel com suas tradições
e as mais caras memórias de libertação. Ali está o momento em que Cristo , com os Seus,
busca o passado, atua no presente e projeta o futuro. Jesus, mais que palavras,
deixou gestos que explicam o ensinamento. Toma o pão, já conhecido como memória
da libertação do Egito, parte-o e reparte entre os seus. É a família, o grupo,
a célula fundamental reunida como uma vida. O pão, que não é mais pão, mas é o
Corpo dEle, é repartido. É Sua vida que é entregue para ser repartida para dar
a vida ao mundo. Deixa o gesto de partir o pão e repartir para torná-la
presente. Ao mesmo tempo é a proposta de vida aos Seus: dar a vida para que o
mundo tenha Sua Vida. A Eucaristia reafirma-se não só como um rito, mas como um
modo de vida, como foi a vida dEle. Sem isso, a Eucaristia perde o sentido. A
verdade da Eucaristia na vida da comunidade estará em sua capacidade de saber
doar-se, repartir. Por isso, a ação caritativa da comunidade não se liga
primeiramente à solução de um problema social, mas da colocação em prática do
que aprendemos de Jesus. Podemos dizer que, onde há alguém passando
necessidades, é porque as Eucaristias não são bem celebradas.
251.
Eucaristia estrada do amor.
Em Suas últimas palavras na Ceia, na
oração sacerdotal, Jesus reza fortemente ao Pai: “Que todos sejam um, como Tu,
Pai, está em mim e Eu em Ti e eles estejam em Nós”(Jo 17,21). A unidade é fruto
do amor: “Isto vos ordeno: amai-vos uns aos outros” (Jo 15,17). E Eucaristia é
rito em que se realiza esse amor de unidade. Essa é a maior pregação e garantia
da verdade que anunciamos: “Para que o mundo creia que Tu me enviaste” (21).
Mais que uma garantia nossa, é garantia de que Jesus vem de Deus. A vida dos
discípulos no amor é o anúncio. Se celebrarmos bem, manifestamos bem a verdade
do amor e da unidade. Ele é a estrada do amor. É símbolo e realização do amor
de Deus por nós e de nosso amor mútuo e a Deus. Na medida em que aprofundarmos
o sentido da Eucaristia, mais o amor ser tornará realidade. Jesus não instituiu
prioritariamente um rito, mas deixou uma prática. O Juízo Final não vai versar
sobre nossa obra espiritual, mas nossa obra de caridade: “Eu tive fome e me
destes de comer, tive sede e me destes de beber...” assim por diante.
252.
Os grãos do pão.
O primeiro catecismo da comunidade
cristã, a Didaqué, do ano 90, escreve, em outras palavras, ‘que os grãos de
trigo que estavam espalhados pelos montes, formaram um só pão. Reuni, Senhor,
vossa Igreja de todos os cantos da terra’. O grão moído, feito farinha,
amassada com a água do batismo constitui o corpo da Igreja. Todos juntos, como
um único corpo, ligados entre si pela fé e pelo amor, tornam-se o pão vivo que
é repartido para ser alimento. A Igreja faz a Eucaristia e a Eucaristia faz a
Igreja. Para repartir é preciso estar unido. Amar é se doar. Eucaristia é
caminho da unidade e do amor. Assim seremos muito úteis ao mundo e lhe daremos
uma lição sobre como viver plenamente.
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