Jesus contou
parábolas para nos fazer conhecer o crescimento do Reino de Deus. E o
evangelista conclui os textos com estas palavras: “Jesus anunciava a Palavra
usando parábolas como estas, conforme podiam compreender. E só lhes falava por
meio de parábolas. Mas, quando estava sozinho com os discípulos, explicava
tudo” (Mc 4,34). Sempre há um mistério que oculta as realidades fundamentais. Penso
que essa escuridão que cerca o mistério não é mais do que a clareza de Deus.
Por isso o discípulo é iniciado por Jesus. Assim ele entende. Para ser
discípulo não basta ouvir, é preciso saber entender. E é o próprio Jesus a
desvendar as profundezas do mistério expresso em termos tão acessíveis. Por que
Jesus não explicava para o povo, mas só aos discípulos? Porque só podemos
entender o Reino, depois de aceitarmos Jesus. Ele se identifica com o Reino. O
Reino é como a semente jogada na terra por Deus. O termo ‘lançado à terra!’ É
literal. Depois é que passavam o arado. O Reino não depende, para crescer, de
nossas capacidades pastorais ou intelectuais. O que fazemos é esperar. Deixar
que ele faça seu caminho por suas próprias energias, como a semente. O
crescimento, mesmo na fragilidade, é consistente a ponto de os pássaros virem e
se aninharem nos ramos desse Reino. A Igreja vive desse Reino. Por isso ela
cresce com ele. O Reino é mais amplo que a Igreja, mas a Igreja tem em si as
energias do Reino, na fragilidade humana. Por isso Jesus disse que “as portas
do Inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16,18).
Força oculta
Ao
nos explicar a força de crescimento do Reino, Jesus usa a menor semente, a da
mostarda, que tem em si a força de fazer um arbusto respeitável. Jesus não
conheceu eucalipto, que é uma árvore que chega a mais de 100m. De onde sai toda
essa força? Da vida presente na semente. Que dizer da pessoa humana? O Reino de
Deus se fez presente no mundo com a humilde e pequena encarnação de Jesus.
Jesus é a humilde, miúda semente que cresceu e chegou à glorificação, como nos conta
o profeta Ezequiel (17,22-24). Os cientistas conhecem o mecanismo da natureza,
mas não o porquê. O mesmo ocorre com o Reino de Deus. Tem uma força oculta da
qual não entendemos todos os dinamismos nem os porquês. Por que uma pessoa
aceita e outra não, após a mesma situação, pregação etc...? Esse dinamismo tão
misterioso, tão incompreensível, é como a semente. Podemos deixar Deus agir. Esse
dinamismo parece frágil, mas tem consistência.
Confiança inabalável
Somos
convocados pela Palavra de Deus a ter confiança e esperança. Confiança na ação
de Deus em nós e no mundo. Não entramos nessa parada para disputar espaço com
outros “deuses”. Ezequiel diz: “Eu o Senhor, digo e faço” (v. 24). Por que Deus
não resolve todos os problemas graves do mundo? O próprio Papa pergunta: “Onde
estava Deus quando mataram um milhão de pessoas no campo de concentração?” Diante
de um menino enforcado que não morria, alguém perguntou onde estava Deus. Ele responde:
“Lá, dependurado”. Jesus também sentiu o abandono. Mas entregou confiadamente
sua vida nas mãos do Pai. Mesmo no mais profundo abismo, somos chamados a crer,
confiar e esperar. Jesus só recebeu a resposta na ressurreição. Paulo escreve: “Caminhamos
na fé e não na visão clara” (2 Cor 5,7). Nossa atitude é fazer o que o Reino
nos sugere e ir modelando nossa vida de acordo com seus dinamismos.
https://padreluizcarlos.wordpress.com/
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