Os
evangelhos foram escritos para as comunidades cristãs que necessitavam de
formação e já enfrentavam problemas. Eram comunidades que tinham ligação com o
apóstolo João, como podemos ler no Apocalipse. Estavam rodeadas de deuses e
filosofias atrativas. Cristo poderia aparecer um a mais, pior ainda, um que
morrera de modo infame. Os cristãos tinham vindo desse mundo há poucos dias. Essa
parábola do bom pastor vem a calhar bem nesse contexto. Ela mostra Jesus como Aquele que está vivo:
“ninguém tira a minha vida. Eu tenho poder de entregá-la e recebê-la novamente”
(Jo 10,18). A certeza da Ressurreição sustenta a fé. Pedro afirma em seu
discurso: “A pedra que os construtores rejeitaram, tornou-se a pedra angular.
Em nenhum outro há salvação. Não há outro nome pela qual possamos ser salvos”
(At 4,11-12). O pastor não é somente um dirigente. Trata-se de vida e de um conhecimento
como Deus conhece. Jesus é o bom pastor que conhece as ovelhas e dá sua vida
por elas. O conhecimento passa do nível intelectual à união de pessoas, como o
conhecimento existente entre Ele e o Pai. Há uma união de vida, como João
explica no verbo permanecer, que é unir-se na mesma vida. A figura do pastor
está presente em toda a experiência de Israel. O pastor vive com o rebanho o tempo
todo, tanto para conduzir como para defender.
Comunidade
hoje
Vivemos em um
mundo de muitos ídolos e idolatrias. Para muitos Jesus não é um pessoa nem
fundamento mas é uma boa ideologia. A própria Igreja corre o risco de misturar
as ideologias com a fé. Como Ele dá a vida, também somos chamados a dar-nos
totalmente a Ele e viver a partir d'Ele. Não é um fundamentalismo, mas tê-lo
como fundamento e ponto de partida para a vida. É certo que temos que viver o
Evangelho hoje. Inútil querer buscar só no passado a explicação da fé como só o
passado fosse bom. A verdade é uma só, mas a compreensão depende do momento em
que vivemos. O passado, um dia, foi presente. Temos o presente em Jesus e as
respostas que temos que dar são para hoje. Por isso ao cristão é necessária a
inventiva para procurar caminhos novos. Temos diante de nós um mundo pagão. Não
é Jesus que fará o único redil. Vai fazê-lo através de nós. A grande família de
Deus, que vive sua vida, é colocada como sinal fulgurante para atrair para
Jesus. Ele está unida ao Bom Pastor.
Ovelhas,
sim, filhos, melhor
Por mais simpática que seja a figura da ovelha, o nome
de filhos combina mais com nossa realidade. João, em sua primeira carta diz
claramente que “somos chamados filhos de Deus e nós o somos” (1Jo 3,1). O mundo
pode não nos conhecer, porque não conhece a Deus (1). Sendo filhos participamos
de Sua vida, somos conhecidos e amados por Deus e O conhecemos e O amamos,
tendo sempre como fundamento Jesus Cristo. Desde já participamos de Seu
rebanho, de Sua família e Sua vida. Por isso somos lançados para frente, como
reza a oração: “conduzi-nos à comunhão das alegrias celestes, para que o
rebanho possa atingir, apesar de sua fraqueza, a fortaleza do Pastor”. Toda a
celebração do tempo pascal quer nos estimular a conhecer Jesus. Nossa
comunidade sofre os mesmos males das comunidades de João. Por isso coloquemos
Jesus sempre mais como fundamento de nossa fé e vida, mas sintamos também as
alegrais de conhece-lO e estar unidos a Ele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário