terça-feira, 6 de janeiro de 2015

REFLETINDO A PALAVRA - Sou responsável pelo meu irmão.

PADRE LUIZ CARLOS
DE OLIVEIRA CSsR
Todos somos profetas 
Em uma sociedade de muito respeito ao indivíduo, o que é muito bom, corremos o risco de estar prejudicando as pessoas. O conceito que temos de respeito leva-nos a nos omitir de dizer a verdade. Por outro lado, pelo individualismo, acabamos por nos isolar em nossos erros. ‘Faço como eu quero, pois sou livre’. Assim nossos erros se cristalizam. A abertura para acolher uma correção, uma reflexão sobre nossa realidade só pode ser proveitosa. Mas a questão é mais profunda: Deus, na profecia de Ezequiel (Ez 33,7-9), coloca o profeta como responsável pela comunidade, devendo responder pelo mesmo erro, se ele não lhe comunica a Palavra de Deus, e a verdade. É um dever que se impõe a partir do amor a Deus que se manifesta e amor ao outro que tem direito a conhecer a verdade sobre Deus, sobre as pessoas e os acontecimentos. Essa verdade não é uma limitação da liberdade, mas é uma proposta que liberta. E quem é esse profeta? Cada um de nós. Ser profeta não se resume em acusar ou condenar. Ser profeta é ser fraterno como nos relata o evangelho de Mateus (Mt 18,15-20). O evangelho dá a metodologia dessa profecia: a falar com o irmão que está em erro, mas muito em particular, sem antes espalhar a notícia. Se ele não ouve, convoque duas testemunhas. Se não ouve, comunique-o à comunidade. Essa atitude é amor ao próximo, pois não deseja vê-lo se afundar no erro. Além do mais, denunciar um erro não se confunde com agressividade e desrespeito. Funda-se no respeito e no amor. 
Quem ama cumpre a lei 
Paulo, na carta aos Romanos (13,8-10), indica o amor como a síntese de todos os mandamentos, pois cada um deles é um aspecto do amor. “O amor é o cumprimento perfeito da lei” (10). É o amor que vai definir nossos relacionamentos de comunidade, mesmo os mais íntimos ou desagradáveis como é a correção fraterna. O amor, que é a maior lei, não faz mal ao próximo. Na seqüência da correção fraterna, só teremos resultado se partirmos do amor. Amar é também estar atendo à voz de Deus que fala pelos pequenos profetas do dia a dia. Por isso a Palavra insiste: “Hoje se ouvirdes a voz do Senhor”. Não se deve perguntar se isso me tolhe a liberdade, mas sim, se isso destrói alguma das muitas dimensões do amor. Profecia sem amor é terrorismo. Corrigir o erro, é uma face do amor. 
Reunidos em meu nome 
Quando nos reunimos, temos uma garantia: “Quando dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles” (Mt 18,20). A presença de Jesus não é algo distante ou místico. É uma presença viva no amor fraterno. Se tivermos consciência dessa presença saberemos o que significa ser comunidade. Essa consciência levar-nos-á a buscar juntos ouvir a voz de Deus e saber nos corrigir mutuamente. Examinemos se muitos males que vivemos no mundo não são fechamento à voz de Deus. O projeto de Jesus para seus discípulos tem como método básico de funcionamento a união, tanto que insiste como síntese de doutrina: “que todos sejam um, como Tu, ó Pai, estás em mim e eu em Ti” (Jo, 17, 21). A denúncia é salvaguarda dessa unidade. Paulo faz a comparação com os membros do corpo que agem em conjunto (1Cor 12,12ss). A liberdade é pôr em unidade.

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