PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
154. Escolhidos
por Jesus
Jesus, ao escolher seus discípulos, o faz de modo
sério. Nós fazemos uma pesquisa sobre quem queremos escolher, tiramos
informações, fazemos testes e colocamos tempo de prova. Jesus tem outro jeito
de fazer a escolha dos seus. Em Lucas 16,12-16 podemos ler: “Jesus subiu a
montanha para rezar e passou a noite em oração. Quando amanheceu o dia, chamou
a si seus discípulos e deles escolheu 12, aos quais deu o nome de
apóstolos...”. Passou a noite em oração. Jesus dá grande valor a essa escolha.
Quer saber a opinião do Pai. Tem-se a impressão de que Ele confirma a eterna
escolha que o Pai fez dEle, para dar-se as condições para escolher os outros
que vão continuar sua presença e missão. Ser discípulo, seguidor de Jesus, é
ser fruto de uma escolha de Deus, não só uma
opção pessoa em nível puramente humano. Ser discípulo, mais que uma
missão, é a participação no afeto que Jesus tem por seu Pai, o que O sustenta em
sua missão. Ser discípulo é ser centrado no coração orante de Jesus nas longas
horas de encontro com o Pai. Por isso a vida dos discípulos só se entende em
seu relacionamento com Jesus que ama seu Pai. Ser escolhido é ter recebido o
dom de converter-se e responder ao olhar de Jesus como ocorre com Mateus. É
ouvir a palavra ‘vêm e vê’, como em André. Dos discípulos Jesus tira 12. Eles
não são privilegiados nem podem dispor da comunidade. Enquanto discípulo,
também eles são chamados a seguir Jesus e a uniformar-se em tudo e para tudo a
sua Palavra.
155. Enviados à
multidão
Os
discípulos de Jesus são enviados e missionários por natureza. É da identidade
do discípulo levar aos outros a Palavra de Jesus. É chamado e enviado. O
discípulo foi chamado ao monte com Jesus, mas deve descer com Ele à planície
onde está a multidão e colocar-se a seu serviço. É no meio do povo que vive o
discípulo e faz outros discípulos. Ser discípulo de Jesus significa encontrar
Jesus, nutrir-se de Sua palavra, viver em comunhão com Ele e, ao mesmo tempo,
estar no meio do povo como lugar de esperança, de salvação e libertação. Jesus
faz assim porque seu Pai sempre fez assim , pois desceu porque viu o sofrimento
do povo. O mundo e a Igreja gostam de tronos e altares altos, longe do povo.
Jesus ama também a planície onde está junto do povo. Assim deve ser o
discípulo.
156. Com olhar
misericordioso
Como
identidade do discípulo, seguidor de Jesus, está também a misericórdia.
Poder-se-ia dizer: amar com os olhos fechados. Se alguém lhe toma o manto,
dê-lhe também a túnica (Lc 6,29). Não só suportar, mas adiantar-se na
misericórdia. A parábola do bom samaritano é a expressão da vida de Jesus e
deve ser a vida do discípulo. O modelo é exato: “Sede misericordiosos como é
misericordioso o Pai que está nos Céus”.
Quando se fala de amor de Deus para com a humanidade, não se pode buscar
a lógica nem medir. Jesus foi tido como louco pela própria família (Mc 3,21).
Deus ama porque é amor e não porque deve amar. A misericórdia deve ser a rainha
da Igreja. Um dia, numa reunião dos agentes de pastoral, eu disse que
precisamos ter misericórdia com o povo. Uma freira, formada em ciências
sociais, disse: “Não podemos fazer um plano pastoral baseado na misericórdia”.
Estava a meu lado um sacerdote bem velhinho. Ele disse com seu sotaque: “Vochê
tem rajão”. Podemos perguntar em que Jesus baseava seu plano de atividade.
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