A
narrativa do pecado dos primeiros pais reconhece a situação fragilizada em que
o homem se encontra. Assim narra o livro do Gênesis: “E Deus disse ao homem:
Porque deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste do fruto da árvore que eu
te havia proibido comer; maldita é a terra por tua causa; tirarás dela, com
trabalhos penosos, o teu sustento todos os dias de tua vida. Ela te produzirá
espinhos e eva má; e comerás das ervas do campo. Do suor do teu rosto comerás o
teu pão, até que voltes à terra de que foste tirado; porque tu és pó, e ao pó
hás de tornar” (Gn 3,17-19). Esta conhecida fragilidade da pessoa humana,
chocante por um lado, é grandiosa por ser um caminho de crescimento em Deus.
Ninguém tenha medo de ser pó e cinza. O homem torna-se mais frágil quando
dominado pelo mal do pecado. Esta fragilidade e pequenez são um motivo a mais
para nos dirigirmos a Deus e rezar como o salmista: “Do fundo do abismo, clamo
a Vós, Senhor, Senhor ouvi minha oração. Que vossos ouvidos estejam atentos à
voz de minha súplica [...] Ponho minha esperança no Senhor. Minha alma tem
confiança em sua Palavra” (Sl.130). Rezar na fragilidade é a condição normal da
pessoa em busca de um Deus que é nossa força. A oração da profunda carência
torna-se um grito forte que corresponde à bondade de Deus que não fez o homem
sem solução, mas o criou para um futuro onde será completo “até atingir a
estatura do homem perfeito à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef
4,13).
62. Um Deus atento
Deus tem seus olhos voltados sempre
para seus filhos. “Eis que os olhos do Senhor estão sobre os que o temem, sobre
os que esperam na sua benignidade” (Sl 33,18); e também: “Os meus olhos estão sobre
os fiéis da terra, para que habitem comigo” (Sl 101.6). Deus está sempre atento
aos sofrimentos de todos: “Vi o sofrimento de meu povo no Egito, ouvi seus
clamores e desci para libertá-lo” (Ex 3,7). A noção de um Deus distante da vida
das pessoas, mesmo das mais pequeninas, não corresponde ao Deus de Jesus. Se
por um lado é atento, é igualmente aberto a ouvir e se interessar por cada uma
de nossas pequenas coisas, como um pai ou mãe que dão ouvidos às conversas de
seus pequeninos. Podemos então levar a Deus nossas pequenas preocupações e
confiar a sua misericórdia nossas complicações mais profundas? É isso que Ele
quer. Isaias escreve: “Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não
ter ternura pelo fruto de suas entranhas? Mesmo que ela o esquecesse, eu não te
esqueceria nunca. Eis que estás gravado na palma de minhas mãos” (Is. 49,15).
Deus ouve a oração das crianças porque é Pai e as entende. Ele sabe o que
dizem. A Igreja sempre recorreu à oração das crianças nos dias difíceis. É a
oração pura.
63. Poder da súplica
Deus
está sempre pronto a atender porque prometeu: “Pedi e vos será dado. Buscai e
achareis. Batei e vos será abeto... Quem dentro vós dará uma pedra a seu filho
se pedir pão? ... O Pai celeste dará coisas boas aos que lhe pedirem” ( Mt
7,7-13). O poder da súplica está na disposição de Deus de sempre nos atender.
Ele é melhor do que nós e “sabe do que precisamos, mesmo antes de lho pedirmos”
(Mt 6,8). Sobretudo quando pedimos para os outros, temos a certeza de ser
atendidos, pois é oração de grande força, já que parte da caridade e do mesmo
cuidado que o Pai tem pelos necessitados.
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