sábado, 16 de agosto de 2014

ESTÊVÃO DA HUNGRIA Rei, Santo 975-1038

REI MODELAR E GRANDE APÓSTOLO

O povo húngaro estava destinado pela Providência Divina  a ser evangelizado e convertido por um dos seus líderes, que se tornaria seu primeiro Rei, Santo Estêvão, o Rei Apostólico, cuja festa comemoramos no dia 16 deste mês.
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Geysa, quarto Duque dos hunos ou húngaros, ainda bárbaro e pagão, teve a feli cidade de casar-se com avirtuosa Sarolta, filha do Duque de Giula, que aos encantos femininos unia os da virtude. Como uma nova Clotilde, empenhou-se ela com sucesso na conversão do marido, que com muitos de seus nobres, recebeu o baptismo.
Essa conversão, embora sincera, não foi suficiente para fazê-lo cessar de vez com os costumes bárbaros, e sobretudo para torná-lo modelo diante de seus súditos. Um dia em que refletia sobre o modo de  levar seu povo todo à conversão, um anjo lhe apareceu. Disse-lhe que, por ter as mãos ainda tintas de sangue, isso caberia a um filho seu, o qual “será do número daqueles Reis que Deus escolheu para Reis eternos”. A Geysa, por sua vez, Deus enviaria como embaixador um santo varão que deveria ser obedecido pelo Duque em tudo o que mandasse.
Esse varão era Santo Adalberto, Bispo da Boêmia, que, obrigado a sair de sua diocese em virtude da rebeldia de seus rudes vassalos checos, foi pedir asilo na Hungria. O Duque Geysa  recebeu-o com grande benevolência, pondo-se em suas mãos para que o guiasse naquilo que julgasse ser da maior glória de  Deus.
“O santo Bispo com sua vida, doutrina e pregação divina, converteu grande número daquela gente que, por sua natural condição e por sua idolatria feroz e bárbara, vivia apartada do grêmio da Santa Igreja”.
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Mais completo Príncipe de seu século

Enquanto isso a Duquesa, que em tudo animava e secundava seu esposo, estando para dar à luz, teve uma visão “assegurando-lhe que o filho que ela portava no seio acabaria a obra que ela e o marido haviam começado, e que ele exterminaria o paganismo do meio de seu povo”.
O esperado menino – futuro Santo Estêvão -- nasceu em 977, recebendo o nome do protomártir em louvor deste. A criança “soube pronunciar o nome admirável do Salvador antes de saber pedir o pão e saudar seu pai e sua mãe. Viu-se nele, desde a infância, tão belas inclinações para a piedade, que não se duvidou que ele levasse avante fielmente o que o Céu havia prometido e predito”.
Foi dado ao menino, como tutor, Teodato, Conde da Itália que, de comum acordo com Santo Adalberto, fê-lo progredir nas sendas da virtude e da ciência, de modo que “os conhecimentos com que ilustrou sua inteligência e as virtudes com que adornou sua alma fizeram de Estêvão o Príncipe mais completo de seu século”.
Quando Estêvão atingiu os 15 anos, seu pai confiou-lhe parte dos negócios do Estado e, vendo que Deus o havia dotado de uma prudência singular, não tomava nenhuma medida importante sem ouvir antes seu parecer. Pouco mais tarde confiou-lhe também o comando do exército.
No ano de 997, duas mortes feriram o generoso coração de Estêvão: a de seu pai, a quem devia suceder, e a de Santo Adalberto, a quem considerava seu pai espiritual. Este, tendo ido evangelizar os povos da Prússia, lá obteve a coroa do martírio.

O Primeiro Rei Apostólico

O primeiro cuidado de Estêvão ao subir ao trono Ducal, foi o de fazer a paz com seus vizinhos, a fim de poder dedicar-se a estabelecer solidamente o cristianismo em seus Estados. Bem sucedido na primeira empresa, não o foi na segunda, pois alguns de seus vassalos ainda muito apegados ao paganismo e às superstições, levantaram-se em armas contra ele,  atacando a cidade de Veszprem, a mais importante do Ducado depois de Estergon.
Estêvão preparou-se para a campanha militar com jejum e oração, escolhendo para patronos de sua empresa  São Martinho de Tours, seu compatriota, e  São Jorge. E, embora com um número inferior de soldados, desbaratou o inimigo. No local da vitória, mandou edificar um mosteiro em honra de São Martinho.
Livre assim para prosseguir seus desígnios, edificou igrejas e mosteiros, e mandou vir de outros países sacerdotes e religiosos recomendáveis por sua piedade para evangelizar seu povo. Alguns destes viriam a receber a coroa do martírio.
Mas faltava ao jovem Duque a chancela do Sumo Pontífice. Por isso, enviou uma embaixada a Roma com a finalidade de oferecer ao Pai comum da Cristandade aquele novo Estado cristão, pedir para ele a bênção apostólica, a confirmação das dioceses criadas. E,  sobretudo, conceder ao novo Duque cristão o título de Rei para que, com mais autoridade, levasse avante tudo o que pudesse servir para a propagação da fé e da verdadeira religião.
Narram os cronistas que, nessa mesma época, o Duque da Polônia, Miceslau, tendo-se convertido ao cristianismo, mandara ao Papa uma embaixada com o mesmo pedido. Silvestre II, para honrá-lo, havia mandado preparar magnífica coroa de ouro com riquíssimos esmaltes. Entretanto, um anjo apareceu-lhe comunicando-lhe que aquela coroa não seria para o duque polonês, mas para Estêvão, Príncipe da Hungria, cujos embaixadores chegariam no dia seguinte, porque suas virtudes e zelo pela fé lhe mereciam essa preferência.
O Sumo Pontífice recebeu com alegria as novas da conversão daquele distante país, concedeu a coroa a Estêvão com plenos poderes apostólicos para fundar igrejas e erigir Bispados e Arcebispados. Deu-lhe também uma bela cruz que deveria preceder o novo rei como sinal de seu apostolado, porque, dizia o Papa,“eu sou o Apostólico, mas ele merece levar o nome de Apóstolo, pois que ganhou tão grande povo para Jesus Cristo” .
A coroa presenteada pelo Papa passou a ser uma verdadeira relíquia para os húngaros, e um símbolo de sua própria nacionalidade. Tem uma cruz um tanto inclinada por causa de um acidente, e é guardada exatamente assim até nossos dias.

Estado húngaro: “Família de Santa Maria”

Estêvão submeteu sua coroa e Estados à Sé de Pedro, e consagrou seu Reino e pessoa à proteção especial da Mãe de Deus, de tal modo que só se referia ao Estado húngaro como “a família de Santa Maria”“E tal é o respeito que os húngaros têm à Virgem, que ao falar d’Ela, a denominam sempre de ‘a Senhora’, ou ‘Nossa Senhora’, e inclinam a cabeça ao mesmo tempo, algumas vezes dobrando os joelhos”.
Em louvor a tão excelsa Senhora, mandou edificar magnífica igreja em Szekes-Fehervar, confiando-a aos melhores artistas e escultores.
Seu zelo pela  Religião estendeu-se para além de seus domínios. Fundou um mosteiro em Jerusalém por devoção ao local do padecimento do Salvador, estabeleceu em Roma uma igreja colegial com doze cônegos e hospedaria para os peregrinos húngaros que se dirigissem à Cidade Eterna, e outra magnífica igreja em Constantinopla.
Compreendendo que, a par da evangelização, era necessário cuidar da educação intelectual e moral de seu povo, chamou eruditos monges ― os únicos educadores da época ― para essa imprescindível tarefa.

Solicitude de pai para com o povo

Santo Estêvão era sobretudo um pai para seu povo. E como tal o tratava, ocupando-se de preferência dos mais necessitados como os pobres, os órfãos, as viúvas e os doentes, dos quais muitas vezes cuidava com as próprias mãos. E isso era tanto do agrado divino, que lhe foi concedido o dom de curar doenças. Foi obsequiado também com o dom da profecia, vendo acontecimentos futuros como se estivessem diante de seus olhos.
Passava os dias cuidando dos negócios públicos, e parte da noite em oração e penitência. “Era grave e sério em suas ações; raramente se o via rir, porque estava tão composto e dentro de si como se com os olhos do corpo visse a Aquele Senhor que via com os da alma, e como se estivesse diante de Seu tribunal para dar-Lhe conta de toda sua vida. A Cristo trazia em sua boca, a Cristo em seu coração, a Cristo em todas suas obras”“Tinha o santo rei um caráter admiravelmente equilibrado, de modo que nem sua bondade nem sua inesgotável generosidade degeneraram jamais em debilidade ou dissipação” .
Não é de admirar que, vivendo sempre na presença de Deus, o Rei-apóstolo tivesse êxtases e fosse visto levitando.

Combates e cruzes de um Rei zeloso

Na hora do combate, Estêvão combatia como um bravo, mas ciente de que a vitória dependia de Deus. Quando seu cunhado e amigo o Imperador Santo Henrique faleceu, seu sucessor, Conrado II, quis apoderar-se do reino da Hungria. O santo preparou-se o melhor que pôde militarmente. Mas confiou-se sobretudo a Nossa Senhora. Ocorreu então um fato prodigioso: os generais do Imperador receberam ordem de retornar a seu país sem haver batalha. O Imperador, não tendo dado essa ordem, reconheceu no fato uma intervenção divina e abandonou seu projeto de conquista.
Como todos os eleitos de Cristo, Estêvão foi agraciado com Sua cruz. Durante três anos foi atormentado por violentas e agudas dores; morreram-lhe os filhos, restando-lhe apenas o mais velho, Américo. Neste, por sua disposição à virtude, depositara todas suas esperanças. Era o consolo de sua vida e esperança de sua velhice. Mas Deus quis também conduzi-lo para o reino do Céu, para o qual estava tão maduro que foi elevado depois à honra dos altares.

Normas de governo refletem santidade

Para esse filho, Estêvão havia escrito algumas normas de governo que são como um espelho de sua própria alma: “A prática da oração é a garantia da saúde do reino. .... O rei que não atende à voz da misericórdia é um tirano. Por isso, meu filho muito amado, doçura de meu coração, esperança da geração futura, recomendo-te que tenhas entranhas de mãe não só com os teus parentes, não só para com os chefes do exército e os potentados, mas para com todo o povo.
“As obras de piedade serão a base de tua felicidade. Sê paciente não só com os ricos, mas também com os necessitados. Sê forte, de maneira que nem a fortuna te levante nem te desanime a adversidade. Sê humilde, que Deus se encarregará de exaltar-te. Sê doce, sem esquecer a justiça e sem castigar irrefletidamente. Sê casto e evita os estímulos da concupiscência como latidos de morte. Estas são as pedras preciosas duma coroa real. Sem elas perderás o reino da terra e também não conseguirás aquele que não acaba” .
Santo Estêvão faleceu no dia da Assunção do ano do Senhor de 1038, sendo canonizado em 1686 pelo Papa Inocêncio XI.
Plinio Maria Solimeo

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