Jesus tem expressões que nos
assustam mas nos estimulam. Os apóstolos pedem: “Senhor aumenta nossa fé!”
Jesus responde: “Se tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda,
poderíeis dizer a esta amoreira: ‘arranca-te daqui e planta-te no mar’ e ele
vos obedeceria” (Lc 17,6). O grão de mostarda é semente pequena, mas produz uma
arbusto grande. Pedimos para ter uma fé forte e poderosa. Jesus responde que a
força da fé não se mede com forças humanas e visíveis. Mas sua força está na
sua origem que é Deus. Sendo Seu dom, por menor que seja, ela tem toda a força
e vida de Deus. Assim podemos dizer às montanhas “arranca-te e lança-te ao
mar”! A partir desta reflexão podemos entender o texto que segue sobre o
empregado que deve obedecer ao que é mandado. É o normal. A ordem dada à
montanha de lançar-se ao mar e ela obedecer é normal. Basta ter fé. Mais
difícil que remover montanhas é converter nosso coração. E nós conseguimos
fazê-lo. O profeta Habacuc comenta que “o justo viverá por sua fé” (Hab 2,4).
Nós que vivemos a fé podemos realizar milagres maiores que este. Este texto São
Paulo o aplica a Abraão e a nossa fé (Rm 3,28 e 4,3). Vemos que pessoas
abandonam a fé cristã por um nada que tenha acontecido como se Deus fosse o
culpado. Veja como se vive a fé: Deus prometeu a Abraão coisas impossíveis,
exigiu o impossível. Abraão creu e recebeu a recompensa da fé. Teve uma descendência
imensa (Hb 11,12). É preciso ser como Moisés que “permaneceu firme como se
visse o invisível” (Hb 11,27).
Brincando com fogo
Paulo, na 2ª carta a Timóteo,
escreve referindo-se ao dom que recebera: “Exorto-te a reavivar a chama do Dom
de Deus que recebestes”. Este gesto de reavivar a chama, faz-nos lembrar a
atitude de nossas avós e seus antepassados, desde sempre: ao terminar o dia,
lembro-me de ter visto, a minha avó, a santa e querida Mãe Rita, cobrir as
brasas com a cinza e no dia seguinte afastar as cinzas e soprar as brasas sob
os gravetos e palhas para acender o fogo. É este gesto tão antigo e tão
simbólico que Paulo usa para explicar como devemos fazer com o dom que
recebemos. “Sopra as brasas”! Assim se reacende o fogo de nossa fé e dos demais
dons que lhe dependem. Como descreve Habacuc, diante de toda a violência e
desgraças é preciso a paciência da fé: “se demorar, espera, pois ela virá com
certeza e não tardará” (Hab 2,3). Ninguém faz ninguém perder a fé. Podemos
dizer que ninguém perde a fé se a tem, mesmo que a cubra com todas as cinzas da
vida. Sopra que ele se reacende, pois é dom de Deus e está ligada a Ele. A
gente até chega dizer que a pessoa não perdeu a fé, perdeu a vergonha. Ou
perdeu a coragem de voltar a ser criança.
Guarda o depósito da fé.
Paulo
insiste com Timóteo, o jovem fundador de Igrejas: “Guarda o precioso depósito
da fé, com a ajuda do Espírito Santo que habita em nós”. Paulo lhe havia
transmitido tantos conhecimentos sobre a fé e o amor a Jesus Cristo. Paulo está
preso. Insiste que ele não se envergonhe de dar, com ousadia, testemunho de
Jesus através de um espírito de fortaleza amor e sobriedade. Seguindo este
caminho, soprando as brasas de nossa fé, podemos resistir aos embates que nos
afligem.
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