Evangelho segundo S. Lucas 2,8-14.
Na mesma
região encontravam-se uns pastores que pernoitavam nos campos, guardando os seus
rebanhos durante a noite. Um anjo do Senhor apareceu-lhes, e a glória do
Senhor refulgiu em volta deles; e tiveram muito medo. O anjo disse-lhes:
«Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em panos e deitado
numa manjedoura.» De repente, juntou-se ao anjo uma multidão do exército
celeste, louvando a Deus e dizendo: «Glória a Deus nas alturas e paz na
terra aos homens do seu agrado.»
Da Bíblia Sagrada - Edição
dos Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
São Rafael Arnaiz Barón (1911-1938), monge trapista espanhol Escritos espirituais, 27/12/1936
«Anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o
povo»
Está muito frio na terra. Os céus estão
bordados de estrelas, que mal se conseguem adivinhar sobre o azul-escuro da
abóbada celeste inundada de trevas. Na Terra, uma das estrelas mais pequenas do
imenso sistema planetário, estão em vias de acontecer esta noite prodígios que
espantam os anjos […]: um Deus que, por amor ao homem, desce humildemente à
carne mortal e nasce duma mulher numa das estrelas mais pequenas e mais frias,
na Terra. […]
Também os homens têm gelo no coração. Ninguém acorre a
assistir ao milagre do nascimento de Deus. O mundo inteiro reduz-se a uma mulher
chamada Maria, a um homem de olhos azuis que se chama José, e a um bebé
recém-nascido que, envolvido em panos, abre os olhos pela primeira vez sob o
hálito quente de um burro e uma vaca, repousando sobre a palha que a pobreza de
José e a solicitude e o amor de Maria Lhe arranjaram. O mundo dorme,
inconsciente, o pesado sono da carne. Está muito frio nessa noite na terra de
Judá. As estrelas bordadas no céu são olhos de anjos que cantam «Glória a Deus
nas alturas!», um cântico entoado para Deus e escutado por alguns pastores que
guardam os seus rebanhos e que acorrem a adorar, com a sua alma de meninos, a
Jesus que acaba de nascer. É a primeira lição do amor de Deus. […]
Embora a minha alma não seja casta como a de José nem tenha o amor
de Maria, ofereci ao Senhor a minha absoluta pobreza de tudo, a minha alma
vazia. Se não Lhe cantei hinos como os anjos, tentei cantar-Lhe alguns refrães
dos pastores, a canção do pobre, daquele que nada tem; a canção daquele que só
pode oferecer a Deus misérias e fraquezas. Mas que importa, porque as misérias e
as fraquezas oferecidas a Jesus com um coração verdadeiramente amoroso são
aceites por Ele como se de virtudes se tratasse. Grande, imensa é a misericórdia
de Deus! A minha carne mortal não ouve os louvores do céu, mas a minha alma
adivinha que hoje, tal como outrora, os anjos olham espantados para a Terra e
entoam «Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade!»
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