Evangelho segundo S. João 13,1-15.
Antes da
festa da Páscoa, Jesus, sabendo bem que tinha chegado a sua hora da passagem
deste mundo para o Pai, Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu
amor por eles até ao extremo. O diabo já tinha metido no coração de Judas,
filho de Simão Iscariotes, a decisão de o entregar. Enquanto celebravam a
ceia, Jesus, sabendo perfeitamente que o Pai tudo lhe pusera nas mãos, e que
saíra de Deus e para Deus voltava, levantou-se da mesa, tirou o manto, tomou
uma toalha e atou-a à cintura. Depois deitou água na bacia e começou a lavar
os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha que atara à cintura. Chegou, pois, a Simão Pedro. Este disse-lhe: «Senhor, Tu é que me lavas os
pés?» Jesus respondeu-lhe: «O que Eu estou a fazer tu não o entendes por
agora, mas hás-de compreendê-lo depois.» Disse-lhe Pedro: «Não! Tu nunca me
hás-de lavar os pés!» Replicou-lhe Jesus: «Se Eu não te lavar, nada terás a
haver comigo.» Disse-lhe, então, Simão Pedro: «Ó Senhor! Não só os pés, mas
também as mãos e a cabeça!» Respondeu-lhe Jesus: «Quem tomou banho não
precisa de lavar senão os pés, pois está todo limpo. E vós estais limpos, mas
não todos.» Ele bem sabia quem o ia entregar; por isso é que lhe disse: 'Nem
todos estais limpos'. Depois de lhes ter lavado os pés e de ter posto o
manto, voltou a sentar-se à mesa e disse-lhes: «Compreendeis o que vos fiz?
Vós chamais-me 'o Mestre' e 'o Senhor', e dizeis bem, porque o sou. Ora, se
Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns
aos outros. Na verdade, dei-vos exemplo para que, assim como Eu fiz, vós
façais também.
Da Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos
Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
Santo António de Lisboa (c. 1195-1231), franciscano, doutor da Igreja
Sermões para o Domingo e as festas, Quinta-feira Santa
«Eu estou no meio de vós como aquele que serve» (Lc
22,27)
«Jesus levantou-Se da mesa, tirou o manto,
tomou uma toalha e atou-a à cintura. Depois deitou água na bacia e começou a
lavar os pés aos discípulos». Lemos no Génesis uma narração do mesmo género.
Abraão diz aos mensageiros, aos três anjos que o visitam: «Trarei um pouco de
água para vos lavar os pés. Descansai debaixo desta árvore. Vou buscar um bocado
de pão e quando as vossas forças estiverem restauradas…» (18,4-5). O que Abraão
fez aos três anjos, Cristo fê-lo aos seus apóstolos, os mensageiros da verdade
que iriam anunciar ao mundo inteiro a fé na Santíssima Trindade.
Ele
inclina-Se perante eles como uma criança; inclina-Se e lava-lhes os pés. Que
humildade incompreensível, que bondade inexprimível! Aquele que os anjos do céu
adoram está aos pés destes pescadores! Esta face que faz tremer os anjos
inclina-Se sobre os pés destes pobres! É por isso que Pedro é tomado de temor.
[…] Após ter-lhes lavado os pés, fá-los «descansarem debaixo da árvore», como
está dito no Cântico dos Cânticos: «Anelo sentar-me à sua sombra, e o seu fruto
é doce à minha boca» (2,3). Este fruto é o seu Corpo e o seu Sangue, que Ele
lhes deu nesse dia. É o «bocado de pão» que colocou à frente deles e que os
reconfortou para os trabalhos que haveriam de realizar. […]
Eis «o
banquete de viandas gordas e tenras que o Senhor do universo prepara para todos
os povos sobre este monte» (Is 25,6). […] Na sala alta, onde os apóstolos
receberão o Espírito Santo no dia de Pentecostes, hoje o Senhor do universo
prepara um festim para todos os povos que crêem nele. […] É isso que a Igreja
faz hoje no mundo inteiro. Foi para ela que Cristo preparou este festim no monte
Sião, este alimento que nos restaura, o seu verdadeiro Corpo, rico em todas as
virtudes espirituais e em toda a caridade. Ele deu-o aos seus apóstolos e
ordenou-lhes que o dessem àqueles que acreditam nele.
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