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PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA REDENTORISTA 52 ANOS CONSAGRADO 44 ANOS SACERDOTE |
2109. As bem-aventuranças
O Papa Francisco em seu ensinamento sobre a santidade, Gaudete et exultate, nos oferece a definição que dá o Evangelho. E diz em um texto sintético: “Sobre a essência da santidade, há muitas teorias, abundantes explicações e distinções. Uma reflexão sobre essas ideias poderia ser útil, mas não há nada de mais esclarecedor do que voltar às palavras de Jesus e recolher o seu modo de transmitir a verdade. Jesus explicou, com toda a simplicidade, o que é ser santo; Ele o fez quando nos deixou as bem-aventuranças (Mt 5,3-12; Lc 6,20-23). Estas são como que o bilhete de identidade do cristão. Assim, se um de nós se questionar sobre ‘como fazer para chegar a ser um bom cristão’, a resposta é simples: ‘é necessário fazer – cada qual a seu modo – aquilo que Jesus disse no sermão das bem-aventuranças’. Nelas está delineado o rosto do Mestre, que somos chamados a deixar transparecer no dia-a-dia da nossa vida” (GE 63). Maravilhosa apresentação. Vemos pela história da espiritualidade que se fez de tudo para viver a santidade. Mas só ficou santo quem viveu a experiência das bem-aventuranças que foi o caminho que fez Jesus. Examinemos bem o que há por aí de doutrina sobre santidade. No evangelho é claro. Isso não é poesia. É o caminho da cruz, não da dor, mas da entrega total de si a Deus e aos irmãos. Se na Igreja se vive de um modo tão distante ao evangelho, o que dizer do mundo oposto ao Reino. Quem caminha pelas bem-aventuranças está contracorrente. Foi assim que viveu Jesus. Seus valores são completamente diversos dos valores do mundo. Jesus nos desafia.
2110. O Reino pertence ao pobres.
“Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu” (Mt 5,3). Essas palavras têm gerado muitas interpretações, mas pobre que é pobre, é pobre. Não há pobreza sem ser pobre. Assim escreve Papa Francisco: “O Evangelho convida-nos a reconhecer a verdade de nossa vida, para ver onde colocamos a segurança do nosso coração. Normalmente, o rico sente-se seguro com as suas riquezas e, quando estas estão em risco, pensa que se desmorona todo o sentido da sua vida na terra” (GE 67). A pobreza não está nos bolsos, mas no coração. O Papa continua: “As riquezas não te dão segurança alguma. Mais ainda: quando o coração se sente rico, fica tão satisfeito de si mesmo que não tem espaço para a Palavra de Deus, para amar os irmãos, nem para gozar das coisas mais importantes da vida. Deste modo priva-se dos bens maiores. Por isso, Jesus chama felizes os pobres em espírito, que têm o coração pobre, onde pode entrar o Senhor com a sua incessante novidade” (GE 68). Pobreza de coração tem sua riqueza no Senhor. Os bens materiais enchem os cofres, os bens espirituais enchem o coração vazio de bens materiais.
2111. Ser pobre no coração: isto é santidade.
A pobreza de espírito nos esvazia de tudo, não só de bens materiais. “Esta pobreza de espírito está ligada à “santa indiferença” proposta por Santo Inácio de Loyola, na qual alcançamos uma estupenda liberdade interior”(GE 69). Lucas não fala de pobreza “em espírito”, mas simplesmente de ser “pobre” (Lc 6, 20), convidando-nos assim a uma vida também austera e essencial. Desta forma, chama-nos a compartilhar a vida dos mais necessitados, a vida que levaram os Apóstolos e, em última análise, a configurar-nos a Jesus, que, “sendo rico, Se fez pobre” (2 Cor 8,9) (GE 70). Sem a pobreza material não poderemos, com facilidade, nos libertar dos bens materiais. O desapego deve ser total e deve atingir todas as dimensões de nossa vida. É a indiferença, porque temos tudo em Cristo. O pouco nos basta e nos faz felizes.