A
fé é um precioso dom de Deus pelo qual participamos da vida de Jesus e a manifestamos
nas atitudes de relacionamento com Ele e com aos irmãos. Por isso rezamos na
oração pós-comunhão: “Fazei que perseverem na sinceridade do vosso amor aqueles
que fortalecestes pela infusão do Espírito Santo”. A sinceridade do amor é a
capacidade de sair de si para Deus e para os outros. A viúva que deu as últimas
moedas como entrega total de si mesma fez muito mais do que aqueles que deram a
sobra. Não se dá resto a Deus. Por isso a religião de fachada dá mais
importância para roupas, gestos, posições na igreja, títulos que à prática. O
evangelista Marcos é muito claro e lembra essas palavras de Jesus que servem de
crítica também à comunidade: “Eles devoram as casas das viúvas, fingindo fazer
longas orações. Por isso eles receberão a pior condenação” (Mc 12,40). A incoerência entre fé e vida provém da falta de
entrega total a Deus, como o fez a viúva. É o mesmo que vemos na narrativa do
livro dos Reis (17,10-16). A
mulher foi capaz de dar ao profeta o quase nada que possuía que significava o
fim de vida e recebeu o milagre da multiplicação do alimento por todo o tempo
da carestia. A grandeza está em sair de si, mesmo que sejamos pequenos e pobres,
para que Deus seja o tudo. É a consciência que nos sugere o salmo 145: “O Senhor
é fiel para sempre, faz justiça aos que são oprimidos; dá alimento aos famintos
e liberta os cativos”. Jesus ensina aos discípulos que o Reino acontece assim. É
por isso que vemos a polêmica de Jesus com os que se apegam aos bens temporais
e à própria vida. Ele foi desapegado até da própria vida. Era frágil, mas forte
na entrega. As pessoas que conquistaram o mundo foram as que saíram de si como Francisco,
Ghandi, Schweitzer, Teresa de Calcutá e outros, mesmo não cristãos. Os grandes
dominadores desapareceram e viraram livro de história das opressões e destruições.
Sacrifício aceito
A
segunda leitura mostra que o Sacrifício de Cristo é uma vez por todas e não se
repete. Jesus foi o Sumo Sacerdote porque entrou definitivamente no santuário.
A entrega de Jesus foi total (Hb 9, 28).
Ele mostrou a fidelidade de Deus que é de sempre e para sempre. A fidelidade de
Cristo está em Sua entrega que permanece. Ele sempre vive para o Pai. Seu
sacrifício da cruz tem como conteúdo o sacrifício permanente de Sua vontade.
Jesus não é contra a prática judaica de oração, nem dos ritos, nem dos
sacrifícios do templo. É visceralmente contra a duplicidade de vida. É o
divórcio entre fé e vida. Muitos cristãos vivem essa vida. Não é uma boa
estrada para o Céu.
Afastai de nós todo
obstáculo
Ao
iniciar a celebração pedimos “Afastai de nós todo obstáculo, para que
inteiramente disponíveis, nos dediquemos ao vosso serviço” (Oração). O obstáculo maior é o apego a nós mesmos e aos
bens que possuímos. A liturgia de hoje continua a leitura do evangelho no qual
Jesus fala do amor a Deus e ao próximo como um único mandamento. As leituras de
hoje exemplificam como amar. Esta é a diferença que faz a doutrina de Jesus. A
sociedade sempre privilegiou os ricos e poderosos. Jesus não condena a posse
dos bens. Ele mesmo usufruía destes bens indo a suas casas. Ele quer o desapego
dos bens e de si. A Eucaristia é compreendida só como espiritual, quando é uma
lição de vida para aprender partir e repartir. Sem isso, não fazemos a
diferença. Somos uma religião a mais.
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