Os textos da criação do mundo, do homem e da mulher são de um ensinamento
tão grande que exigiriam mais do que uma simples reflexão. Jesus, no evangelho,
reflete com os fariseus a questão do divórcio. Ensina que é a partir da Criação
que se entende o matrimônio. Um dado importante que se deve ler no relato da
criação é diferença entre o homem, a mulher e as outras criaturas. A mulher não
é como os demais animais aos quais o homem dá o nome como sinal de posse. Ao
dizer que é “osso dos meus ossos e carne de minha carne” (Gn 22,3), ensina a igualdade entre ambos. Na
história do mundo a mulher quase sempre foi objeto. Para a Palavra de Deus, não
há um sentido de posse e domínio, mas união: “Por isso deixará o homem a seu
pai e sua mãe e se unirá a sua mulher, e eles serão uma só carne” (Gn 2,24). Percebemos um desligamento da família
para constituir outra união. Há um segredo profundo na criação: Adão não sabe
como foi feita Eva. Nem ela viu Deus fazer o homem. Cada um é para o outro um
mistério a acolher e desvendar. O ser humano é obra das mãos de Deus. Nenhum está
acima do outro. Cada um é um presente de Deus a ser acolhido e conhecido. O
verdadeiro conhecimento só se dá pela comunhão mútua. Comungar é entregar-se e
acolher. S. Agostinho comenta que Deus não tirou a mulher de um osso da cabeça
para que ela não se considerasse superior; não tirou dó pé para ela não a
subjugasse, mas costela, do lado, do sentimento do coração (é a mesma palavra
que costela), para que constituíssem uma vida a dois na unidade. Há um princípio
de igualdade. Para nós isso não é um problema, mas para o tempo sim. A Igreja
iniciou a libertação da mulher. O homem vivia na solidão. Com a mulher, se
liberta para a comunhão de pessoas na complementaridade.
Por
que não divorciar?
Os fariseus justificavam o divórcio a partir de uma permissão de Moisés
Jesus diz que era por causa da dureza de seus corações, isto é, incompreensão
do projeto de Deus. Ele supera da dureza de coração, pelo acolhimento do Reino de Deus como uma
criança (Mc 10,15), isto é, sem obstáculos
do coração. Jesus apóia-se na criação feita por Deus. Razão fundamental não é
porque Deus não quer, mas porque o casamento se realiza em Deus. Esta é a vontade
de Deus que estava na base da narrativa da criação. Ser uma só carne não é uma
união superficial. Carne, em hebraico (bassar -בַסַר),
significa a totalidade da pessoa, não só a carne material. Serem os dois uma só
carne significa que formam um novo ser espiritual que une duas pessoas. Há uma
relação com a Unidade da Trindade: Três pessoas e um só Deus. A infidelidade no
casamento não é só o adultério, mas está na dissolução dos laços divinos da
união espiritual. O que Deus uniu o homem não separe”!A razão é Deus.
Força
da comunhão do casamento
Deus é remédio para a solidão pois não quis que o
homem ficasse só. O matrimônio funda-se não no casal, mas em Deus continua fiel
em cada casal, pois se casam em Deus para que ele continue no mundo sua obra de
amor fiel. A força do casamento está no desejo e no empenho permanente de
comunhão. A relação física é imagem da união de alma que se realiza no casal. O
que sustenta a carne no casamento é a mútua união em Cristo. A união a Cristo torna
os atos humanos divinos. A Comunhão Sacramental reforça a união do casal que é
continuação da união a Cristo.
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