Evangelho segundo S. João 3,22-30.
Naquele
tempo, Jesus foi com os seus discípulos para a região da Judeia e ali convivia
com eles e baptizava. Também João estava a baptizar em Enon, perto de Salim,
porque havia ali águas abundantes e vinha gente para ser baptizada. João, de
facto, ainda não tinha sido lançado na prisão. Então levantou-se uma
discussão entre os discípulos de João e um judeu, acerca dos ritos de
purificação. Foram ter com João e disseram-lhe: «Rabi, aquele que estava
contigo na margem de além-Jordão, aquele de quem deste testemunho, está a
baptizar, e toda a gente vai ter com Ele.» João declarou: «Um homem não pode
tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. Vós mesmos sois
testemunhas de que eu disse: 'Eu não sou o Messias, mas apenas o enviado à sua
frente.' O esposo é aquele a quem pertence a esposa; mas o amigo do esposo,
que está ao seu lado e o escuta, sente muita alegria com a voz do esposo. Pois
esta é a minha alegria! E tornou-se completa! Ele é que deve crescer, e eu
diminuir.»
Da Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos
Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África), doutor da
Igreja
2.º Sermão para a Natividade de João Baptista, n.º 288, 2; PL 38-39,
1302-1304
«Ele é que deve crescer e eu diminuir.»
Antes de João Baptista, houve profetas
santos em grande número, homens dignos de Deus, cheios do seu Espírito, que
anunciavam o advento do Senhor e que testemunhavam a verdade. Porém, não se
disse deles o que se disse de João Baptista: «Entre os nascidos de mulher, não
apareceu ninguém maior do que João Baptista» (Mt 11,11). Porquê então esta
grandeza, enviada antes daquele que é a própria grandeza? Para testemunhar a
profunda humildade do precursor.
Ele era tão grande, que o poderiam ter
confundido com Cristo. Nada mais fácil [...] porque, sem que ele o dissesse, era
o que pensavam aqueles que o ouviam e o viam. [...] Mas este humilde amigo do
esposo, zelando pela honra do esposo, não pretende tomar o seu lugar como um
adúltero. Ele dá testemunho do seu amigo, recomenda à esposa o verdadeiro esposo
e tem horror a ser amado em seu lugar, porque apenas quer ser amado nele: «O
amigo do esposo, que está a seu lado e o escuta, sente grande alegria com a voz
do esposo.»
O discípulo escuta o mestre; permanece de pé porque o
escuta, pois se se recusasse a ouvi-lo a sua queda era certa. O que se destaca a
nossos olhos da grandeza de João é que ele podia ser tomado por Cristo e, no
entanto, preferiu dar testemunho de Jesus Cristo, proclamar a sua grandeza e
humilhar-se, a passar pelo Messias e enganar-se a si próprio, enganando os
outros. É, pois, com toda a justiça que Jesus diz que ele era mais do que um
profeta. […] João humilhou-se perante a grandeza do Senhor, para merecer que a
sua humildade fosse levantada por esta grandeza. […] «Eu não sou digno», diz,
«de Lhe desatar as correias das sandálias» (Mc 1,7)
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