segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

REFLETINDO A PALAVRA - “Ano Santo da Misericórdia”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
1657. Um jubileu que perdoa
            A palavra jubileu pode ter origem no som produzido pela trombeta feita de chifre de carneiro ou também tem o significado de ano do perdão. No Antigo Testamento, como lemos no livro do Levítico 25,10, cada cinquenta anos havia um ano jubilar com leis de uma reforma social muito profunda: as terras e as propriedades deviam voltar aos antigos donos, evitando assim o latifúndio. As pessoas escravizadas eram libertadas e outras normas mais. Será que isso chegou a acontecer? Imaginemos como seria diferente o mundo se ouvíssemos essa Palavra de Deus! A Igreja começou a usar o ano jubilar no sentido mais espiritual. Fugiu-se assim do compromisso com a Palavra. O primeiro Ano Santo começou em 1300 com o Papa Bonifácio VIII, sob influência da devoção popular dos movimentos penitenciais. Já as cruzadas tinham a indulgência plenária. O Papa organizava e concedia a indulgência. Foi um sucesso imenso. Foi assim proposto que fosse a cada cem anos. Depois se passou para cinquenta e, enfim, cada vinte e cinco anos. Os Papas criaram também Anos Santos Extraordinários para certos temas, como Redenção e Ano Santo da Misericórdia. O Ano Santo difere, por exemplo, de anos temáticos, como tivemos Ano da Vida Religiosa, ou Ano da Paz.  Estes estão na linha da reflexão. O Ano Santo, na linha também da indulgência e do perdão. O termo santo, vem da Bíblia: “Declarareis santo o quinquagésimo ano” (Lv 25,10). Os profetas alargam a significação social para a remissão dos pecados. Jesus mesmo diz: “proclamar o ano da graça do Senhor”, isto é, ano da redenção total (Lc 4,19). A característica do Ano Santo é ser tempo de salvação.
1658. O rosto da Misericórdia
            “Papa Francisco quer que toda a Igreja celebre os cinquenta anos da conclusão do Concílio Vaticano II na contemplação do mistério da Misericórdia, relembrando as palavras de sua abertura ditas pelo Papa S. João XXIII: “Em nossos dias a Igreja prefere usar mais o remédio da misericórdia que o da severidade” ... “Deseja mostrar-se mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e bondade com os filhos separados”. O mistério do amor da Trindade Santa se revela a nós como misericórdia, diz ele. “Misericórdia é o caminho que une Deus e o  homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do pecado”. Tivemos muito apreço pelo Deus justo que exige e cobra execução de suas leis. Interessante que queremos que Deus seja justo com os outros. Somos, às vezes, executores da justiça de Deus no tratamento com os fragilizados. Como iríamos julgar se os réus fôssemos nós mesmos. Iríamos usar da misericórdia ou da justiça conosco. A misericórdia não é só um sentimento, mas toma atitudes concretas para curar. Os gestos precisam ser concretos.
1659. Gestos concretos
            Ano Santo é tempo da indulgência. O perdão é a oferta de Deus. Esse perdão requer a conversão e a mudança. Não podemos ter medo de Deus, pois sua misericórdia é infinita. Não se trata de algo automático. Dentro da prática, somos convocados a fazer uma peregrinação até uma Igreja designada pelo bispo. É preciso estar confessado e ter recebido a Eucaristia. E depois, rezar pelo Papa. O gesto de atravessar a Porta Santa é um símbolo de entrar em algo diferente. Pede-se também que se pratique a caridade e se tomem atitudes concretas para o bem das pessoas. A misericórdia convida os governantes do mundo a se preocuparem com os que sofrem tantos tipos de discriminação. As mãos devem se elevar aos céus, mas os olhos devem sempre procurar os necessitados.

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